sexta-feira, novembro 03, 2006

De noite

Parador, 12 de Cheshvan 5767

Jerrez,

Lá fora há uma lua encoberta pelo véu das águas; uma claridade melancólica enche os céus enquanto ouço o silencio da noite, o silêncio de todas as coisas, o meu silêncio, o teu silêncio...Quantas palavras são ditas em silêncio? Quantas declarações de amor, de guerra ou de Adeus são feitas em silêncio? Silêncio solene como esse que se instaurou agora...Silêncio disfarçado em palavras, palavras vazias, perdidas no tempo, no espaço, no seu mais profundo significado...Apenas palavras!

Sento-me no jardim, sobre o colo estendo minha caixa de recordações: são tão belas as tuas! Aqui tenho um recorte de doces palavras e mais acá uma porção indescritível de prazer. Guardei essa pena de andorinha para não esquecer aquele dia em que eu tive medo e recebi seu abraço de apoio e força...Estendo a vista sobre a amurada e as rosas plantadas por ti vicejam lindas! Plantastes tantas flores no jardim de minha vida que por todo o resto dela seu perfume recenderá profundo nos ermos da minha alma.

Uma música doce e forte, semelhante em muito a tua voz, preenche os vazios do Universo, os caminhos da lua, essa mulher misteriosa e só, admirada, cobiçada mas só... A Lua é um pouco como você que chegou de repente, invadiu tudo, encheu de beleza e cor um espaço triste quase morto e quando podia, enfim, desfrutar de sua criação começa a sair devagarzinho...Mas, olha, a lua nunca diz que já vai ou que o dia está nascendo: Você olha e olha e parece que ela ainda está ali, e você vai olhando e a lua dentro dos seus olhos lhe deixa impressão que não se foi; você pisca e nesse átimo surgiu o sol e ninguém nem sabe como a lua desapareceu!

É uma forma elegante de dizer Adeus, é uma forma dolorida de sentir o adeus porque fica tudo pairando no ar: Já é dia mas parece que ainda há tempo para a madrugada; você já foi mais ainda diz que não e eu tonta quero sim acreditar que a cotovia ainda não cantou!

O perfume das tuas rosas enchem o ar com a fragrância da nostalgia e eu queria, mesmo, era te ver voltando pelo caminho das rosas plantadas, fresco e vivo trazendo sanduíches de ricota, suco e bombons...Queria ver seu cabelo voando ao vento e sua risada gostosa sempre presa entre as duas orelhas...Voltando com o perfume das madrugadas perfumadas de palavras doces, toques sutis de um céu azul que dançava com a lua um tango em plena noite de estrelas!

Jeux Interdits by Andre Rieu