Eu
faço mar/você barco
Vamos
brincar de viagem
Eu
sou remo/você âncora
No
mar precisa de coragem
Eu
sou vela/Você mastro
Vamos
correr pra outra margem (...)
BRINCANDO
– Mabel Veloso
Os últimos raios de sol
escorrem pelo horizonte entrando pela minha janela num doce carinho. Sobre o
colo tenho lembrança, fotografias, imagens de momentos especiais, locais,
momentos que gosto de revisitar, palavras que gosto de redegustar, acariciar...
O raio tímido desce lentamente pelo meu rosto, percorre
meu pescoço, meu ventre e pousa nas fotos que descansam sobre minhas pernas.
Sentada, como um Buda sorridente, observo as fotos pareadas e sorrio.
Uma das imagens mostra um belíssimo homem trajando um
elegante esporte fino escuro. Calças, sapatos e meias pretas com camisa preta de
listras brancas em dois diferentes diâmetros. Seus cabelos macios estão entre
minhas mãos e ele tem um sorriso divertido
escondido no canto dos olhos.
No outro quadro esse mesmo homem usa calça jeans clara,
tênis, meias brancas e está sem camisa. Está concentrado em um pequeno arranjo
que suas mãos hábeis desenvolvem. Serio, é igualmente belo no seu porte
imponente, na elegância dos braços bem torneados, no peito largo e sedoso, no
delicioso aroma que exala. Impossível não perceber que sob o Jeans existem
pernas esculturalmente formadas.
Em uma e outra gravura, a mesma pessoa em momentos distintos,
como uma paisagem em diferentes horas do dia, todavia, um e outro, me estremecem
de forma diferente.
O homem em seu traje de passeio faz de mim uma criança
deslumbrada, acorda a adolescente apaixonada diante do seu primeiro amor:
aquele rapaz da casa vizinha que já faz faculdade e nunca vai olhar para ela,
mas ela sonha com ele todos os momentos e fica no portão só para o ver
passar!
A
menina de tranças conhece o barulho do motor do carro, sabe a placa e todos os
horários do rapaz, conhece seu cheiro e as musicas de que ele gosta, ensaia mil
diálogos, mas quando, por ventura, ele vem até a sua casa, fica muda e incapaz
de uma só palavra.
O cavalheiro, concentrado, no seu jeans claro e sem camisa
faz de mim uma mulher, ensina-me coisas sobre mim mesma que jamais imaginei: Em
sua presença sou toda pele, nervos e sensações, sou hormônios, feromônios,
pele, tato, instinto e desejo... Primitiva, primal, os tambores de Beltrane soam dentro de mim no compasso da terra.
Quero estender as mãos e tocar, apalpar, sentir e
cheirar: a vida quer se realizar, concretizando-se no espetáculo da cocriação
encenado pelos corpos entregues ao êxtase.
Um e outro, sendo o mesmo, desperta em mim tão diferentes
emoções e tão completa sensação de plenitude que me perco em mim mesma
desejando apenas fundir-me nele, navegar na profundeza do seu olhar e sob o
comando dessas mãos firmes guardar-me no ancoradouro do seu peito.
Não
esqueci seu nome, seu rosto sua voz
Outro
dia eu te vi numa tarde tão veloz (...) corrii atrás, tarde demais, perdi a
condição
De conversar,
te convencer
Te confessar,
quero só você
Sei
que isso não tem importância
Pra
você não faz sentido (...)
Amanhã,
pela manhã, a gente pode sair pra
conversa (...)
Te
convencer, te confessar
Quero
só você
A
VIDA TEM DESSAS COISAS – Bernardo Vilhena/Ritchie