quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Retornando

Parador, Shevat,5767

Nefertiti, querida amiga,

Enfim volto a Parador!

Definitivamente precisava e merecia as férias que me impus.

Deixei Tambaquiá sob um belo e escaldante sol... Sair da claridade e força solar para encontrar uma Parador coberta de chuva e frio é, sem dúvida, um choque do qual custo a me recuperar, não obstante ame Parador e ache complicado viver em qualquer outro lugar!

Em Tambaquiá deixei todos bem, muito embora tenha voltado preocupada com a saúde de minha mãe que se apresenta fraca, quase deprimida. Tenho constantemente a impressão de que se cansou de viver, como um soldado que abandona as armas e senta-se no meio da batalha a esperar o que os céus lhe aprouverem...Tal pensamento não deixa de causar-me espanto pois minha mãe sempre foi uma pessoa batalhadora e perseverante. Sua saúde frágil e debilitada nunca foi um empecilho a qualquer coisa que desejasse fazer, fato é que não mais deseja nada que não sejam suas linhas e agulhas de crochê! Seria o peso da idade? Não creio, afinal muitas pessoas mais velhas que ela levam uma vida saudável e construtiva, ainda.

Meu pai está bem. Continua com a mesma vitalidade de sempre. Acresceu-lhe um certo bom humor e uma posição mais relaxada em relação ao que não pode mudar, mas tudo isso sem abrir mão de sua posição de liderança. Desta vez não nos desentendemos, ao contrário, promoveu-me a posição de amigo e confidenciou-me coisas variadas as quais jamais imaginei que me contaria!

De alguma forma, e por algum processo que não entendo, o meu envolvimento com Jerrez aproximou-me de meu pai e facilitou meu entendimento sobre seus mecanismos afetivos e mentais. A recíproca também é verdadeira e creio que minha maior proximidade de meu pai me levará ainda mais para perto de Jerrez e me possibilitará trazer-lhe maior satisfação. Estranhos os mecanismos da alma humana!

Em Tambaquiá sua lembrança, lembrança de Jerrez, foi uma constante a cada dia, a cada raiar do sol ou marear de ondas. Não me refiro a lembranças melancólicas ou adolescentes do tipo “seria lindo se você estivesse aqui!”, mas lembranças como as que temos de algo que estudamos ou lemos, de uma boa companhia ou de um bom livro! Of course Jerrez é uma excelente companhia e poder ficar todo um mês tranqüilamente ao seu lado teria sido maravilhoso, mas essas são divagações que se faz à luz do luar e que não cabem bem na vida prática!

Aqui da varanda vejo observo um céu cinzento e pesado e fico pensando nas semelhanças entre o firmamento que se apresenta e como me sinto no momento.

A distancia existente entre mim e Marcelo cresce a cada dia. Ousaria dizer que habitamos não mundos, mas universos diversos e sem pontos de contato... A cada dia me sinto mais e mais desvinculada dele e de suas indiosincrazias.

Imagine alguém para quem tudo é absolutamente desinteressante, maçante e complicado, alguém que desconhece qualquer tipo de prazer que não seja o de enrolar a cabeça num lençol e dormir em profunda escuridão a qualquer hora do dia ou da noite...E eu sou a vida e vida pulsante.Você sabe disso!

Meus pais ficaram horrorizados com o comportamento dele, com sua inércia, seu desânimo generalizado e crônico.Sua verve sempre causticante e incapaz de uma palavra de elogio sincero. Sua excessiva melosidade, diagnosticada pelos “velhos” como uma forma de embuste para cegar-me a realidade, como o chocalho das serpentes que hipnotizam as vítimas com seu barulho e as tornam presa fácil...

Estive ontem com Jerrez e isso foi como encontrar o sol em todo o seu esplendor, mas também é assunto para outra carta pois que essa já encontra por demais longa e sequer perguntei-lhe pelos seus.

Dê-me noticias breve.

Receba meu beijo

Sh