sexta-feira, julho 04, 2008

Terminos e recomeços

O que vale é amor que não se olvida,

tristeza que na pessoa desperta

a dor que machuca na partida,

trazendo aos olhos a descoberta

no infinito adeus da despedida,

saudade é inspiração para o poeta

em seus versos clama a dor sentida.”

(Partidas - Teca Miranda)

Não sei ao certo porque, provavelmente por, em termos de pessoas, haver perdido mais que ganhado, tenho dificuldade de lidar com as perdas, mesmo as perdas irremediáveis, as esperadas, as – como a sua – longamente anunciadas.

Sobra sempre uma espécie de vazio, algo como um vácuo perfeito, o princípio do nada que o cérebro teima em encher com idéias e conceitos. Pré-conceitos porque ninguém garante, absolutamente, que poderia ser diferente... Pessoas não são receitas de bolo , o script da vida é único para cada um e assim seguimos, ou caminha a humanidade, como diz o título do antigo filme holywoodiano.

Olho a estrada e você vai seguindo, afastando-se lentamente como uma imagem em câmera lenta As cores sumindo aos poucos, esmaecendo, perdendo contato. O cenário casuístico, como se tudo devesse acontecer assim. Câmera, corte o plano e faça um closed! seu rosto respira aliviado, seus olhos espreitam vigorosos novos horizontes, estradas diversas, transeunte frescos do rocio.

Minha mente, minha maior amiga e minha melhor inimiga, sussurra ao meu ouvido: Lestes as crônicas da morte anunciada? Não te parece familiar a cena??? Sim, sim, mil vezes sim e não sabes tu que me recuso a entender porque sempre sobra este vazio imenso que nem é dor e nem sabor, apenas algo que se esvai como sangue de vermelho vivo, como uma unha quebrada ou o salto de um sapato que ficou na escada!...

Ë vermelho vivo, vermelho sim, é o sangue sim, o mais puro de mim e a dor lacera tanto quanto enfeia a mão a unha rachada, mas coloco um sorriso band-aid e prossigo o baile pois o filme tem que continuar.

E se te perco nestes caminhos – e a pergunta sempre se estabelece: Se era para te perder, porque fui te achar? _ acharei outros viandantes a acompanhar-me, todos dispostos a serem coadjuvantes, nenhum a reclamar o papel principal e sempre a mesma certeza de que dantes havia melhor.

Continuísta, corte a cena para as ruas! Pessoas trafegam todos os dias, em todas as direções, absolutamente perdidas, cantarolam canções a esmo, como se tentassem dizer que são felizes.

Procuramos lá fora o que queríamos ter aqui. Deveríamos ter em nós toda esta paz, liberdade e acalanto que buscamos no outro. Cantamos coisas como “chove lá foraá, faz tanto frio. Me chama, me chamaá....Aqui dentro? Vermelho sangue, escarlate, vivo, essência da alma correndo nas veias, espalhando-se pelo chão.

A estrada se estende, você vai sumindo, a mão estendida num cordial gesto de até logo, na verdade adeus, e eu aqui, sempre com dificuldades em lidar com a perda!

Parusia

A água morna envolvendo o corpo num carinho tépido disfarçando o frio da noite longa. As longas noites frias, os silêncios intermináveis, gélidos, escuros e o pensamento vagando, perscrutando as dobras do tempo.

Unhas vermelhas sobre uma camisa branca. Botões tateados, abertos como pontas de fita que se unem em laço. O pano cheiroso – cheiro de homem bom – papel de presente que escorrega sem as amarras.

Um volteio, pirueta, sissone, elevé e os braços em quinta. O rosto mergulha na gramínea macia, inspira o perfume das flores, dos grãos maduros. Pele crestada pelo sol, fruto maduro de sabor prefeito.

No boca-a-boca, abrem-se as rosas e chovem pétalas, corolas em oferenda. Milhões de brigadeiros correm pelas ruas, descem as estradas enquanto correm as cataratas. Águas que se misturam, misigenam, massageiam.

Dedos ágeis em uma mão segura.

Mergulho! Não há tempo, apenas o tic-tac dos corações ofegantes no ritmo imposto pela dança. A cabeça leve, o corpo solto, o tempo e o vento fazem pas de deux. Emboité e o mundo recrudesce ao big-bang. O estrela explode e nasce o sol do seu sorriso. Rosa aberta; botão. Homem-menino, sorriso divino, parusia.

Mozart e a Sinfonia 40. Cronos, insistente, e o frio lá fora. Noites extensas, silêncios prolongados, neblina silenciosa.

- Alô!

“O seu amor, o nosso amor, me faz pensar.

É tão fácil lembrar, com a memória é muito simples.

Difícil é esquecer quando se tem amor.

E você tornou-se impossível de esquecer.

Há tempo que ficou pra trás todo silêncio e solidão;

Se o tempo foi, você ficou junto de mim, à me aquecer.

Há tempo que o frio passou, ficou o calor da tua luz;

Se o tempo foi, você marcou presença onde não há valor...”.

(excerto de Parusia,Rosa De Saron. Composição: Guilherme De Sá)