sexta-feira, julho 04, 2008

Parusia

A água morna envolvendo o corpo num carinho tépido disfarçando o frio da noite longa. As longas noites frias, os silêncios intermináveis, gélidos, escuros e o pensamento vagando, perscrutando as dobras do tempo.

Unhas vermelhas sobre uma camisa branca. Botões tateados, abertos como pontas de fita que se unem em laço. O pano cheiroso – cheiro de homem bom – papel de presente que escorrega sem as amarras.

Um volteio, pirueta, sissone, elevé e os braços em quinta. O rosto mergulha na gramínea macia, inspira o perfume das flores, dos grãos maduros. Pele crestada pelo sol, fruto maduro de sabor prefeito.

No boca-a-boca, abrem-se as rosas e chovem pétalas, corolas em oferenda. Milhões de brigadeiros correm pelas ruas, descem as estradas enquanto correm as cataratas. Águas que se misturam, misigenam, massageiam.

Dedos ágeis em uma mão segura.

Mergulho! Não há tempo, apenas o tic-tac dos corações ofegantes no ritmo imposto pela dança. A cabeça leve, o corpo solto, o tempo e o vento fazem pas de deux. Emboité e o mundo recrudesce ao big-bang. O estrela explode e nasce o sol do seu sorriso. Rosa aberta; botão. Homem-menino, sorriso divino, parusia.

Mozart e a Sinfonia 40. Cronos, insistente, e o frio lá fora. Noites extensas, silêncios prolongados, neblina silenciosa.

- Alô!

“O seu amor, o nosso amor, me faz pensar.

É tão fácil lembrar, com a memória é muito simples.

Difícil é esquecer quando se tem amor.

E você tornou-se impossível de esquecer.

Há tempo que ficou pra trás todo silêncio e solidão;

Se o tempo foi, você ficou junto de mim, à me aquecer.

Há tempo que o frio passou, ficou o calor da tua luz;

Se o tempo foi, você marcou presença onde não há valor...”.

(excerto de Parusia,Rosa De Saron. Composição: Guilherme De Sá)

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