quinta-feira, março 17, 2016

Proposta



“(...)sempre achei que tem um dom muito grande para colocar seus sentimentos nas pontas dos seus dedos!(...)”

Deixa-me tocar-lhe com elas, com a ponta dos meus dedos, reter o teu rosto entre as palmas das minhas mãos; deslizar meus dedos pela tua face – desenhando-lhe o contorno, sentindo a maciez crespa e bem cuidada do mento, a deliciosa suculência desses lábios, pétalas de rosas colombianas -  permite-me descer pelo teu pescoço e percorrer teus ombros fortes num quase sussurro entre peles...
Deixa que minhas mãos tentem abarcar teu tronco largo, teu peito forte. Que a ponta dos meus dedos, diligentes, contem a tua pele o que eu sinto e durante tal narrativa sigam descendo a desenhar-te tão sutilmente quanto existes nos meus sonhos mais profundos...
Permite-me solver teu cheiro fresco de banho, de pele limpa com austero perfume, a fim de que recordando-se mais fielmente do meu querer possam as pontas dos meus dedos te contar o frenesi que é sonhar, desejar e sentir...

Ainda uma vez, deixa que te abrace os joelhos e descanse meu rosto entre tuas colunas, espalmando minhas mãos sobre elas, percorrendo-lhes as saliências com esses dedos que, dizes, sabem falar por mim!

Proponho-te a experiência de conversar com a ponta dos meus dedos: em silencio, apenas ouça o que eles forem capazes de lhe contar e se precisar de algum guia, olha nos meus olhos sem falar...Deixa, deixa eu te contar como vives em mim, em cada milímetro do meu ser, em cada célula, em cada lembrança e ao final, se ainda assim restares indiferente, tombarei vencida mas consciente que até o fim lutei por ti!





quarta-feira, março 16, 2016

Io che amo solo te

 

Da janela avisto um braço do mar em sua elegante curva. Tem, ao meio dia, uma cor prata que reacende sua lembrança em minha mente.
Tudo o que é belo me lembra você. Viro-me para lhe chamar a ver o espetáculo e percebo que não está aqui. Pela primeira vez, em muitos anos, só sua lembrança me acompanhou nessa viagem.
Em todos os locais há um traço seu desenhado. Nos espelhos do quarto, na bancada do banheiro, na mesa da cozinha, na rede da varanda... Os recortes do oceano me machucam com uma força maldosamente suave: murmuram seu nome nas asas do vento. As folhas que balançam no alto das palmeiras e, com donaire, curvam-se ao toque do vento extraem de mim lembranças tantas...
Meus pés, caminhando a esmo, escrevem seu nome na areia molhada que o mar insiste em apagar. Só minha mente não consegue apagar você! E o sol que aquece a todos, queima-me a pele evocando suas mãos quando deslizavam sobre meu corpo.
Nada mais tem a cor ou o brilho de antes: sem você o mundo voltou a ser cinzento com pequenos pontos de luz.
Cadentes estrelas líquidas alojam-se nos meus cílios, brilham entre minhas pálpebras e caem pelo meu rosto...Existe apenas o vazio que toda beleza circundante faz ainda mais doloroso!