"Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."
(Eugênio de Andrade)
O calor está insuportável, decido tomar um banho para ver se melhora. Minha imagem refletida no espelho abre uma janela no tempo e cola sua lembrança, como se me olhasse refletida nos seus olhos.
Sorrio à lembrança da confissão de que o encabulo. Como posso encabular você? Logo eu que me dispo a sua frente sem qualquer tipo de pudor! Mostro-me inteira, numa infinidade de nuances que fazem de mim criança e mulher, doce e voluntariosa – rebelde, como você diz, convicta como me entendo ser – brincando com a espuma ou me perdendo na imensidão aconchegante do seu abraço. Sou eu, apenas eu, frágil como uma libélula pousada na sua mão, necessitando tão somente ser aquecida pela intensidade do seu olhar.
Como pode a verdade ser constrangedora? A verdade é apenas a verdade e a beleza que vejo em você não se restringe às colunas jônicas a que chamas, modestamente, pernas ou ao talhe que em nada desmerece uma estátua renascentista. Tão pouco me refiro aos olhos vivazes, buliçosos, sempre em observação ou ao sorriso escondido nas extremidades dos lábios cerrados. É tudo isso, mas é muito mais...
Sua beleza, cariño, é tudo isso, mas é muito mais e este mais não é só a sua elegância ao andar; ao vestir, com a mesma majestade, um jeans ou um terno; não está só na forma correta e discreta de falar ou no som de trovão que desce macio pelos seus lábios. Sua beleza vai além, além da forma firme e doce como me repreende, me acarinha, me denga; vai além do desejo com o qual se apresenta para o banquete dos corpos e da ternura com que me recebe em seu colo, abraçando-me e sorrindo como fazemos quando observamos crianças brincando; sua beleza é muito mais que isso e tudo isso também.
Nada tão belo quanto o seu abraço que se desmancha num sussurro de prazer para recompor-se no aconchego que tanto aprecio e onde observo seu rosto sereno, olhos fechados, emergindo, lentamente, do êxtase em que mergulhamos.
Entende o que quero lhe dizer? Alcança a dimensão da sua beleza? Vai além do que Michelângelo conseguiria entalhar no Carrara, pois ultrapassa a beleza helênica com que desenharam seu rosto; vai além de tudo para ser você , sua essência, sua natureza.
E tentar definir tudo isso é como tentar descrever o mar para quem nunca o viu: assustadora, magicamente belo, indescritível pois como diria o aviador do Pequeno Príncipe:
“ ...quer se trate das casas, das estrelas ou do deserto, o que lhes empresta beleza é invisível, pois o essencial é invisível aos olhos!...”
ou
“... e eu me pergunto: haverá algo de assim tão errado em se procurar a beleza no que não se vê? Se não, então porque continuarão as pessoas sempre em busca dela só no que os olhos captam?”(SmallHeaven blogspot .com – Lisboa, Portugal)
Sua beleza? É tudo isso e muito, muito mais!
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