O coelho branco passa correndo. Consulta seu relógio de algibeira e repete compulsivo: estou atrasado, estou atrasado... Perde-se no final da rua, ao norte, enquanto se ouve o eco de sua voz: estou atrasado, estou atrasado.
Levanto-me disposta a segui-lo, tal como Alice, sabendo no entanto que o coelho branco é a realidade de todos nós, é a minha realidade, sempre atrasada, chegando sempre depois da hora, quando a festa já terminou, quando não há mais lugares disponíveis a não ser na janela.
Enxugo as grossas gotas de chuva que insistem em escorrer pelo meu rosto. Chove. É inverno na praça do meio do mundo, não obstante, do oeste, vem um suave fragor de rosas. Aspiro-o. O bouquet está impregnado em mim, gravado no fundo das minhas pupilas, revejo o jardim onde rosas , bergamotas, limões e mandarina misturam-se a limas da pérsia e enchem o ar com fragor das manhãs.
Não posso permanecer ali, parada, na chuva. A vida urge, alguns dizem que ruge.
Sigo o rastro do coelho branco, ele é a realidade. O jardim é só fantasia, é só o mundo de Alice e a fantasia há muito me foi negada!
Estou atrasada, estou atrasada, estou cansada!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário