No turbilhão de todas as palavras que não tinham como ser ditas, no maremoto de tantos sentimentos, aquele abraço era a gota de orvalho que desce suave sobre as folhas das árvores após um tórrido dia de verão.
Era o frescor da brisa suave, aquela que vem do mar no final da tarde, remexendo com suavidade os fios curtos dos cabelos tingidos com a esperança ilusória de retardar a vida em seu ritmo próprio.
O aconchego reverberou nas palavras doces, no tom suave, quase paternal: “Não tem do que pedir desculpas, moça!...” O som projetou, na retina, a imagem refletida no espelho e as lágrimas acudiram rápidas, embora reticentes.
Sentiu-se envolvida ainda mais fortemente. Naquele instante nada lhe conseguiria atingir, não ali, naquela fortaleza inexpugnável e por alguns instantes sentir-se acolhida, entendida, amada, protegida, era muito mais que tudo.
Não era necessário usar máscaras, ser forte, incorruptível, sempre certa, absolutamente impecável. Ali, naquele pequeno espaço, podia correr descalça, tomar sorvete e deixar escorrer pelo canto da boca, chorar de medo, gargalhar de prazer, sentar-se de pernas para cima, em cima da mesa, debaixo da cama. Plantar bananeiras, sentir preguiça, ser criança, mulher ou anciã... Podia ser simplesmente o que era e isso era muito para alguém que sempre teve que ser um personagem, um super-herói, uma ficção.
Um sorriso aflorou no coração e sua alma entoou um cântico de gratidão: Nunca recebera um presente mais valioso na vida que esta oportunidade de ser simplesmente o que era!
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