É a insensatez que nos permite enxergar além do obvio, a maioria das pessoas não enxerga porque se orgulha de ser sensato, viver conforme as regras.
Acordei lembrando de um texto do grande e querido Ruben Alves – amor platônico, é claro, intelectual, mas profundamente enraizado em mim desde que meu professor de filosofia , nos antigos anos de faculdade, nos passou seu livro o Amor que acende a lua – chamado a Mariposa e a estrela.
No conto em referencia, a jovem Mariposa se apaixona por uma estrela e contrariando todos os conselhos de sua mãe, toda a tradição de sua família, tenta alcançar a estrela para demonstrar o seu amor. Voa cada dia um pouco mais alto na tentativa insensata de alcançar os céus.
As críticas são apenas um estímulo a mais, embora esmaguem seu ânimo e seu coração sensível. Resolve sair de casa para perseguir seu sonho com mais tranqüilidade. Muito tempo depois volta e descobre que toda a sua família já morreu em decorrência das queimaduras de lâmpadas causadas pelos amores tradicionais, normais, pacificados como sendo o certo. Apercebe-se então que sua busca a tornou melhor, mesmo não tendo alcançado a estrela.
Conheceu montanhas e vales, viu o amanhecer e o anoitecer, contemplou o mar e os céus de uma forma que mariposa alguma jamais o fez.
Viveu muitos anos a mais que seus familiares e teve a irrepreensível certeza de que, em geral, “os amores difíceis e impossíveis trazem muito mais alegrias e benefícios que aqueles amores fáceis e que estão ao alcance de nossas mãos.”
É assim que me sinto, como a Mariposa voando em direção a estrela impossível de alcançar, mas aprendendo a cada dia um pouco mais, vislumbrando paisagens que dentro do senso comum jamais conseguiria ver. Aprimorando-me como pessoa, como ser humano, como mulher e mãe, como filha, companheira.
Tentar alcançar minha estrela – que posso, no máximo, tocar com a ponta dos dedos por momentos fugazes – tem me valido um enorme aprendizado. É como seu eu fosse a pedra bruta da qual Michelangelo tirou a Pietá, David, Moisés...
Por seus olhos tenho compreendido mais quem sou e o que sou, meu entorno familiar, meu corpo, minhas emoções e nem adianta alguém vir me dizer que é insensatez : enquanto for possível, vou voar na órbita insensata de alcançar minha estrela.
Que me ofusque a luz do seu olhar, que me sufoque a força do seu abraço, que me perca na saudade da distancia, no cansaço do vôo, mas que haja a órbita a me guiar para que possa dizer como o poeta: Eu gosto da falta quando falta mais juízo em nós / E de telefone, se do outro lado é a sua voz / Adoro a pressa quando sinto / Sua pressa em vir me amar / Venero a saudade quando ela está pra terminar / Baby com você chegando já...
O mundo, Deus, está com aqueles que têm coragem para sonhar e perseguir seus sonhos!
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