Por quatro longos anos vaguei pela escuridão. Perdida no
labirinto do esquecimento de mim mesma seguia em frente pelo impulso de
existir, pela responsabilidade de todos os dia, pela inexorável covardia de nunca me deixar vencer!
Numa dessas curvas escuras e sombrias, nesse emaranhado
cibernético que nunca vou entender muito bem, vislumbrei você e, sem pretensões
tentei um contato. Você respondeu e tudo mudou. Aos poucos o mundo foi
retornando a ter cor e eu, sem entender
o que estava acontecendo, via os sabores voltando, o sol ressurgindo e uma
outra eu nascendo, aos poucos, lentamente.
As pressões continuavam e havia todo tipo de razões para
o cinza se instalar, mas você havia me dado uma palheta nova de cores fortes,
pinceis de excelente qualidade e uma tela nova, enorme, toda em branco...Você
me devolveu as palavras. Eu era, novamente, um ser capaz de me comunicar com o
mundo. Eu tinha palavras, sabia escrever!
Minhas
amadas palavras que me haviam abandonado, novamente se aninhavam em torno de
mim, surgiam do nada, brotavam no meio da noite. Eu não estava mais só, eu
tinha minhas palavras e as tintas para colorir a vida!
Assim,
a cada dia, fui ressurgindo nova, produto das suas mãos maravilhosas. Obra sua,
sua Pietá, sua Violetera!
Mãos
seguras me ensinaram o caminho para encontrar a deusa interior, a mulher
adormecida sob tanto tempo de frio e silencio; a palavra firme restaurou a
autoconfiança, mantendo a lucidez e a sanidade intactas a despeito de tantas
trovoadas!
Pelos
seus olhos resgatei a fé que aprendera no berço, com minha avó, a eterna
gratidão a um Deus que nem sempre entendemos, mas que nos abençoa a cada dia
mesmo que não alcancemos a forma como o faz!
Com
você aprendi a dizer “me desculpe”, “errei, vou tentar não fazer mais!”, “gosto
de você!”, “você é importante para mim!”... Ora mármore, ora argila, em suas
mãos sou versátil, maleável ao seu toque de mestre.
Quando
o sol já dormiu e a lua se esconde entre nuvens frias, meus passos ainda cruzam
a cidade. Nessa hora em que você dorme entre lençóis macios, meu pensamento
pousa suave no seu rosto e deseja ser cada dia melhor para sempre merecer a
confiança, o carinho, a atenção que sempre me dispensa.
O
impulso que me leva a frente, a polir o material sobre o qual você trabalha
para que sua obra seja sempre muito digna de você é que me encoraja a pedir que
fique comigo, ainda um pouco mais, fique comigo!
Sou uma
obra inacabada e sei que meu pedido parece egoísta, mas se parar para pensar
que não há nada duradouro, não há um futuro prescrito para nós, sou eu quem
ficará sem chão quando e se nada der certo e chegar a fatal hora em que você tiver
que partir... Mas, por enquanto fique ainda um pouco mais!
O
futuro é algo sobre o que não temos o direito de sonhar, mas dentro da minha
conhecida rebeldia acredito nos impossíveis, nos limites do improvável, e penso
que podemos, sim, nos fazer felizes: um ao outro, dentro das limitações que a
vida nos impõe, então fique ainda um pouco!
As
incertezas, os medos, todos os “ses”, deixemos vagando ao vento. Quando
chegarem, se chegarem, veremos como os enfrentar. Por enquanto, fique comigo!
Eu
sei que é um risco, a felicidade é uma aposta de risco, é, como a fé, um pulo
no escuro. Eu pulo, se você me der
a mão!
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