Como geralmente acontece, cheguei em
casa, – deliciando-me com o aroma impregnado na minha pele- busquei o
aconchego dos lençóis para me deixar embalar pelas lembranças da tarde,
repassando cada detalhe, cada pequena minúcia que meu cérebro registrou. Sentia
em mim que havia algo que necessitava ser dito, mas o calor das emoções,
a força do momento, fez desaparecer as palavras com medo de quebrar o
encanto.
Afundei meu rosto em seu peito e me deixei descansar, quase sem conseguir
respirar, prolongando ao máximo essa etérea sensação de magia, esse momento em
que todas as grandezas físicas se diluem no éter e somos quase deuses!
Em
casa, sob o comando da razão, perscrutando cada momento à luz da inteligência,
pude reviver todos os momentos sob uma nova perspectiva, novos sentires e agora
encontrar as palavras que, se naquele momento não poderiam ser ditas, agora se
alinham de forma mais inteligível, ainda que teimem em sair aos borbotões.
Um
desses autores, cuja leitura se encontra em moda, escreveu em um de seus
romances a seguinte passagem: “E sei que passei todas as vidas, antes desta,
procurando você. Não alguém como você, mas você!” E lendo essa citação foi que
comecei a entender o que queria dizer e não sabia, não sei se por medo do
encanto, se por pejo ou pudor de revelar-me mais que o necessário, mas começo
por aí, começo citando o romancista do momento que, embora não faça meu gênero
de leitura, disse exatamente o que eu queria e não conseguia dizer.
E
porque penso que por todas as vidas procurei por você? Não alguém como você,
mas exatamente você? Nenhum dos homens que atravessou os 50 km de vida que já
trilhei se parecia com você, nem física e nem emocionalmente, nenhum nunca se
assemelhou a você e minha alma andou vagando, sempre buscando o que a
completava, o que queria, o que a acalentava e um dia encontrei alguém
que sabe, sempre, exatamente dizer o certo para fazer com que eu me sinta bem,
que sabe fazer sobressair o que de melhor há em mim, que saca, pelos meus
olhos, as palavras que minha boca nunca diria...
E em
tua boca palavras que antes eram repulsivas, que eram inadmissíveis para mim,
soam normais, sedutoras, atingem-me com a doçura de uma brisa, a delicadeza
sensual de um carinho, a avalanche de um furacão que me faz
estremecer e mergulhar no profundo de mim mesma para voltar de um transe que eu
própria desconhecia!
Há muito
em mim que não conheço, há mistérios que você desvenda como se
fossem seus e sendo-os meus, encanta-me ver como descobre em
mim coisas que ignoro, e absorta no luzeiro dos seus olhos só consigo
admitir que tem plena razão!
E
quando seus braços me abraçam – protegendo-me das sucessivas ondas de frio
e calor – o mundo se torna um lugar seguro onde não temo o futuro porque ainda
que não lhe veja você estará sempre comigo, ao meu lado.
Sou
obra imperfeita, ainda, das suas mãos hábeis. Como paciente
escultor, vai trabalhando a pedra bruta, lapidando suas arestas para
que se torne a obra de arte perfeita, a sua criação e me deixo moldar,
porque me sinto enriquecida pelo seu talento, pela sua arte que
me faz melhor.
E quando
reflito sobre todas as coisas, todos os dias, todos os momentos, tudo que sei é
que atravessava a vida sem sentido, sem razão, pela convicção de que não a
podia interromper, mas depois que encontrei você entendi que tudo que me
aconteceu desde que eu nasci me preparou para esse momento, o momento de lhe
encontrar, tudo me preparou para o momento em que seus braços se fecham em
torno de mim e sua boca sussurra ao meu ouvido: você gosta?
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