Hoje eu pensei muito em você. Não
sei porque, mas senti saudades do seu jeito moleque e debochado de me chamar de
mulherzinha, a querer dizer que eu seria sempre menina, criança, mas sempre
acrescentando que eu era uma mulherzinha muito interessante, muito
inteligente... Senti saudades da forma folgada como invadia minha casa a
qualquer hora que lhe desse vontade de me ver, me ligar, me falar e do seu
carinho tão terno que nunca vou saber definir, explicar.
Lembro-me
você chegando a meia-noite, sem cerimonia, fugindo da festa barulhenta da sua filha
– uma mulherzinha muito interessante e excessivamente bonita, risos – vestido numa
horrorosa camisa verde escura, ou em pleno alvorecer – linda camisa listrada,
bermuda preta – para me dar a metade do seguro do seu carro que fora perda
total! A outra metade? Bem, você deu a sua filha que também estava precisando.
E todo o carinho, e todo o cuidado que teve ao me entregar o envelope para que
isso não maculasse a nossa relação: que relação?!
Amávamos
tão ternamente, tão doce e puramente que sequer conseguimos formar uma relação.
Era tudo muito etéreo, delicado, frágil, embriagante... Seguimos assim até nos
perdermos de vista completamente e hoje, sim, hoje acordei com muitas saudades
de você!
No
trato comigo o homem arrogante sempre desaparecia, e muito embora o deboche
fosse um traço seu, a ternura com que o revestia fazia-o doce, suave, meigo.
Talvez,
só talvez, se você estivesse aqui eu pudesse me sentar no seu colo e perguntar
porque ele faz essas coisas, porque precisa de tantas regras, de tantas
proteções... Quem sabe você poderia me explicar se ele não me entende, se ele
me teme, ou teme a si próprio e poderia me contar uma longa estória de ninar
onde o príncipe finalmente entendeu que ter medo do tempo é o mesmo que correr
contra ele...
Não
sei, quem sabe você me diria que deixasse ele pra lá e ficasse com você, mas então
eu teria que lhe responder que é tarde demais para isso: eu sou irremediavelmente
dele no riso e na lágrima, é aqui o meu lugar, ao menos enquanto houver um
lugar para mim!
Sei,
sei sim que você iria brigar e sorrir e me abraçar. E me dar um beijo e mais um
e me dizer que eu sou uma mulherzinha muito especial...
Sim, hoje eu
acordei com muita saudade de você! Então, aí no coro dos anjos, onde você está,
cante uma canção para me acalentar, sente-se aqui ao meu lado, me ponha no
colo, enxugue as minhas lágrimas e me faça dormir porque hoje eu sou só uma
menina na qual dói e dói e dói.
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