Que o rei se encante com
vossa beleza!
Prestai-lhe homenagem, é
o vosso senhor!
(Sl 44,12)
O sol a meio céu desenha
sobre a água arabescos indefiníveis. Um espelho perfeito, fere, com sua beleza,
a vista do transeunte desavisado.
As árvores estréiam um verde
novinho espichando-se em direção ao mais que perfeito anil do céu.
Uma nuvem branquíssima atravessa
o horizonte. Nela seu rosto é um recorte vívido e enigmático. Detenho-me a observar o quadro que me apresenta.
Seu rosto e sua beleza
enigmática. Seu sorriso misterioso, hoje se esconde, também, dentro dos olhos.
Olhos de mistério, de sonho, de porquês. Um rosto inteiro de enigmas que eu
gostaria de decifrar enquanto observo seu dorso deitado sobre os lençóis imaculadamente
brancos, as pernas em ângulo reto, a emergir de uma elegante boxer também branca, tocam o chão com a leveza
firme que belos pés lhe conferem.
Tudo, absolutamente tudo, em
você é harmoniosamente belo, até mesmo esse enigma que se desenha em seu rosto
e me desafia a inteligência, a curiosidade, a vontade de mergulhar em seus
pensamentos e de lá emergir com todas as respostas, até mesmo ele lhe dá um
realce, um equilíbrio que lhe tira aquele lugar comum que possuem todos os
filhos de Adão.
Reticente, a razão cede
lugar ao instinto e calo as perguntas quando suas mãos tocam meu rosto. Atendo
o pedido silencioso sem tirar os olhos dos seus. Tenho medo de vê-lo sumir,
evaporar repentinamente, quebrar-se o sonho, a magia do momento.
Curvo-me sobre você: quero
encher-lhe de beijos, penso em tecer uma roupa, uma túnica, até os pés, toda em
beijos, suaves, ardentes, docemente entregues, provocantemente submissos...
Minha idéia se desvanece ao contato das mãos que me içam, me levam mais acima,
braços que me envolvem, me viram, me posicionam e sigo, agora não mais
pensando, entregue ao seu ritmo, ao seu desejo, meu desejo de que me deseje...
Tenho fome de provocar-lhe
fome, transformar-me em água pura para sua sede, encantar-lhe com alguma música
mágica, pó de pirlimpimpim espargido diretamente da minha essência feminina.
Tudo o que almejo é, à Cleópatra,
seduzir Marco Antonio, rendê-lo, para sempre, aos meus encantos, os quais não
sejam muitos, sejam fatais o suficiente para apagar toda glória de Roma!
Um comentário:
Caríssima Thamar, você, minha menina amiga de longa data, a cada texto se supera, discorrendo, com um português castissimo, o clima que o momento lhe inspira. Parabéns.
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