quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Por dentro das memórias

Sentada na varanda da memória assisto sua partida.

As belas pernas – que o short preto sempre realça – como colunas jônicas de estrutura perfeita, a envergadura de águia, a tração suave de braços cujo abraço paralisam o tempo, mantendo afastados o mundo e seus turbilhões...

A rosa venezuelana , boca macia de corola vermelha, parte em busca de outras abelhas que lhe sugem o néctar, casou-se de mim, do meu volteio incerto e tantas vezes turbulento.

Custou-me crer, e em registros sobrepostos, vi os olhos que sorriam, as curvas que se encaixavam perfeitas num vai-e-vem fantasticamente sincronizado, um balé sem prévio ensaio, mas sempre eivado de absoluto sucesso.

Atônita, vejo dar a volta, e seguir em frente, a mesma pessoa que me impediu, um dia, de ir. ouço, ainda, os ecos de sua voz me pedindo que voltasse, que ficasse. Recordo o abraço apertado, o pedido quase suplicado e me sinto meio enganada. Abandonada, seria o mais correto.

Numa análise rápida, alguns diriam perfunctória, mas não gosto dessa palavra – palavras tem cheiro e cor e esta fede a pus, parece podre – faltou-lhe sentimento, investimento pessoal, alicerce para o relacionamento.

Alguns dizem que os homens são caçadores, adoram abater a caça; outros que são gourmet, interessam-lhes a boa comida e por fim alguns afirmam que os homens são guerreiros, estimula-os o perigo, a adrenalina da guerra, os despojos da vitória.

Talvez caçador, talvez gourmet, guerreiro não creio que se aplique as memórias que trago aqui, pois para ser guerreiro faz-se necessário amar a guerra, o perigo, a disputa, ter em si o destemor cauteloso dos generais, ter no sangue a paixão quase ágape pela causa em questão ...

Ao invés, os pés distanciam-se assustados como o cervo na floresta que ouve o estalido do galho e já se imagina presa do bisão, então corre e vence distâncias quando muitas vezes nada mais foi que o eco longínquo de um pintassilgo!

Contemplo mais uma vez minhas lembranças: parte de novo, novamente. Por quanto tempo? Para sempre? Não sei se voltarás, não sei se voltarei... Tudo que sei é que não era esperado e sinto-me extenuada, como se por dentro, tudo vazio, não existisse nada além do silêncio profundo e das palavras sábias de meu velho pai!

Um comentário:

Elaine disse...

Me senti na varanda com vc. Pude até perceber tudo e me arrepiei, abraçada a mim mesma, quando seu coração foi arrancado do peito. Demais!!!