Quando nada é familiar, embora não seja hostil, sua ausência
se torna tão concreta que quase posso pegar .
Chove forte lá fora. Não aquele tamborilar gostoso que
acalenta o sono, mas uma chuva que cai como a ira de um deus raivoso.
A água bate com força nos alambrados produzindo um barulho
ensurdecedor.
Estranho os hábitos, a cama, a chuva... e o sono não vem, embora o corpo peça
descanso.
Puxo os lençóis ao meu encontro buscando formar um
ninho, uma sensação de pertença, mas não adianta. Eu que sempre me
considerei cidadã do mundo, sinto falta
do meu pedaço, do meu canto, das minhas raízes.
Minha cidade e suas ruas conhecidas, minha rotina de cada
dia, meu espaço e a certeza de saber me movimentar nele...Nesse contexto de
completo estranhamento sua ausência se faz tão presente como nunca pensei ser possível.
Imagino seu corpo quente, largo, acolhedor, aconchegado a mim. Deito a cabeça no seu
braço e me encaixo nessa enorme curvatura que é você. Seu cheiro gostoso –
sempre recém saído do banho, cítrico,
como uma brisa campestre – enche o ar e logo sua mão descansa sobre minha coxa
num suave vai e vem.
Fecho os olhos e o sono vai chegando aos poucos.
Tudo se encaixa lentamente nesse torpor que vai tomando
conta de mim até que o sol resplandeça, eu acorde e me dê conta que estou ,
ainda, fora de casa...
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