segunda-feira, janeiro 28, 2013

Saudades


É quando estou fora de casa, me sentindo assim, meio expatriada, que mais sinto a sua falta!
Quando nada é familiar, embora não seja hostil, sua ausência se torna tão concreta que quase posso pegar .
Chove forte lá fora. Não aquele tamborilar gostoso que acalenta o sono, mas uma chuva que cai como a ira de um deus raivoso.
A água bate com força nos alambrados produzindo um barulho ensurdecedor.
Estranho os hábitos, a cama, a chuva...  e o sono não vem, embora o corpo peça descanso.
Puxo os lençóis ao meu encontro buscando formar um ninho, uma sensação de pertença, mas não adianta. Eu que sempre me considerei  cidadã do mundo, sinto falta do meu pedaço, do meu canto, das minhas raízes.
Minha cidade e suas ruas conhecidas, minha rotina de cada dia, meu espaço e a certeza de saber me movimentar nele...Nesse contexto de completo estranhamento sua ausência se faz tão presente como nunca pensei  ser possível.
Imagino seu corpo quente, largo, acolhedor,  aconchegado a mim. Deito a cabeça no seu braço e me encaixo nessa enorme curvatura que é você. Seu cheiro gostoso – sempre recém saído do banho,  cítrico, como uma brisa campestre – enche o ar e logo sua mão descansa sobre minha coxa num suave vai e vem.
Fecho os olhos e o sono vai chegando aos poucos.
Tudo se encaixa lentamente nesse torpor que vai tomando conta de mim até que o sol resplandeça, eu acorde e me dê conta que estou , ainda, fora de casa...

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