(...) antes do sol partir, deixa no meu corpo a vida tatuada na alegria de um ultimo beijo
Antes do sol - Jorge Bichuetti
O carro desliza suave em um
dos raros trechos de asfalto novo. O paredão de rochas coloridas, à esquerda,
forma um belo contraste com o mar verde água no lado oposto. Estendo minha mão
e faço um carinho nos seus cabelos enquanto penso que tudo isso deve ser uma
antevisão do paraíso: desfrutar da beleza interminável em sua companhia...
Localizamos um bom lugar para parar e descemos para uma
caminhada.
Aproveito esse precioso momento para , sem pudores,
observar você. Adoro deslizar meus olhos pelo seu corpo, como se fosse um fio
d’água escorrendo lentamente desde sua cabeça!
Nunca me canso desse exercício voluptuoso de lhe admirar
lenta e detidamente e sempre me surpreendo com sua capacidade de impactar-me
com tanta beleza, porte e elegancia.
Roço meu rosto no seu braço num carinho que sei que não
ficará impune, embora não seja minha intenção. Erguida na ponta dos pés, busco
seus lábios para um beijo moleque, mas um braço forte me alça e logo nossos
corpos estão colados sob a brisa que vem do coqueiral.
É possível sentir o desejo que nos envolve, nos arrebata,
nos transforma em uma unidade viva e vibrante.
Uma de suas mãos desliza carinhosamente firme pelo meu
corpo, enquanto o outro braço nos mantem unidos, firmando-me de encontro a
você. Por um segundo temo pelo nosso equilíbrio, mas
lembro,incontinenti, das belas colunas gregas firmemente fincadas na areia
macia da praia: não há o que temer, seria mais fácil o mar secar que você me
deixar cair!
Entrego-me sem resistência à fome dessa boca que envolve
a minha, deixo-me explorar por essa mão que firme e carinhosa desata o nó
lateral desnudando parte das minhas roupas.
Nesse pedaço de Éden, Adão e Eva não sentiriam vergonha
de estarem nus: a beleza é uma vestimenta natural de todo aquele que em
comunhão se entrega as delicia do amor.
Os corpos que se reconhecem também conhecem os desejos
que os habita e logo a areia molhada e macia é a toalha que serve de pano de
fundo à essa fome que nos devora.
Sua boca desce suave e firme pelo meu pescoço recolhendo
os pequenos cristais que o vento oceânico depositou sobre minha pele e o roçar
do seu rosto na minha pele me causa arrepios de uma urgência absoluta. Ondilhas
quebram aos nossos pés numa sinfonia deliciosamente doce e sensual que seus
dedos regem usam como palta meu corpo ávido de você.
Por duas,por três vezes sou arremessada no meio do oceano
em um delírio intenso. Minha voz se funde com as ondas que quebram enquanto eu
mesma me alço acima do mar suave e verde. Finalmente partimos juntos rumo ao gran finale navegando as costas de um
lindo boto cor-de-rosa!
Não há palavras suficientes para descrever todo o prazer
que me invade, todas as variadas sensações que me preenchem nesses momentos em
que, segundo a filosofia hindu, os mortais vislumbram o paraíso e percebem num
átimo o que é a imortalidade da alma.
Tudo que sei é cair exausta nos seus braços acolhedores,
sentindo o inebriante e doce cheiro que você exala no pós prazer. Entregar-me a
delicia desse carinho terno que me puxa de encontro a si, não como uma
provocação sensual, mas como um carinho que envolve e protege.
Aconchegados na simplicidade dos
primitivos habitantes dessa terra brasilis fechamos os olhos por alguns
momentos atendendo ao reclame imperioso dos nossos corpos. Seu braço sobre meu
dorso me guarda e resguarda: certamente não há o que temer, sou toda e
completamente sua.
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