terça-feira, setembro 18, 2012

O que mudou? il mondo, niente di più


            Olho sua imagem apequenar-se em direção ao horizonte.
       Seu passo firme voltou, sua forma sedutoramente despojada de caminhar também.

        Paradoxalmente, quando mais sua imagem se apequena, mais aumenta em meus olhos. Meu coração se dilata numa sensação sempre nova de infinita ternura...
             Perco-me entre lembranças. Um turbilhão de sensações me povoa a pele, uma multitude de lembranças me acode a mente. Há um mundo, uma vida vivida aos pedaços, deliciosas fatias saboreadas contigo, como se sorver o inteiro pudesse nos matar!

              Poderia? Acredito que sim!
             Os remédios, assim como os venenos e as guloseimas, devem ser  tomados em pequenas doses ou causarão grandes males. Assim também conosco: creio que uma grande e constante proximidade poderia envenenar-nos , fazer-nos cair no dia-a-dia que tantas vezes já beiramos.

            Lembro de Paganini e seu concerto com o violão de uma corda e de como passados tantos anos , ainda há entre nós boas novidades a serem compartilhadas. Existem outras, tenho certeza, questão de procurar.

           Meus olhos molhados pelas emoções que me invadem, enquanto conto contas de contar lembranças, lembram da primeira vez que estive na proteção perfeita dessa envergadura de águia. Recua um pouco mais para lembrar como foi difícil atender o telefone, como a voz não saía, como os joelhos se recusaram a manter as pernas firmes... Avança um pouco e não era possível trabalhar naquele dia, pois o pensamento vagava e vagava e quando chegou à hora do almoço havia cola na cadeira: como me levantar se não era possível?
           Meus olhos arregalados diante de tanta beleza, meu corpo tremulo de uma excitação que nunca conhecera, todos os meus medos a flor da pele, toda a certeza de que estava irremediavelmente vencida...Eu ali, diante do máximo entre todos, eu tão pequena, tão incipiente diante de um mestre!

              Eu sob seus lábios em um beijo roubado, eu sob a proteção cuidadosa do seu abraço vencida pela deliciosa ousadia de suas mãos... Diluída numa onde de prazer que desde então só cresceu!

          Eu sem saber exatamente como agir: meu coração explodindo de uma ansiedade louca, de uma emoção descontrolada, meu corpo eletrizado por um desejo que brotava profundo, de regiões que eu nem imaginava... Eu hoje e a   mesma energia percorrendo o corpo,  disparando um coração descompassado quando, debaixo do chuveiro, atendo o telefone...Você está vindo!
             
            Nada mudou além do tempo, nada mudou a não ser que agora me atrevo a lembrar de Paganini e sua serenata de uma corda só!

         Não, não é verdade que nada mudou, tudo mudou!

      Meus olhos se admiram ainda mais quando contemplam toda a extensão que você ocupa, meu ser esborda ante a expectativa de sua chegada, ante a lembrança de sua presença... Você chega e me cobre com seu carinho, com sua pujança, com seu desejo, com sua terna saciedade e quando se vai é como as enchentes do Nilo : eu sou as margens!

Nenhum comentário: