Tenho a sensação de que não
deveria estar escrevendo isso, mas também tenho absoluta certeza de que se não
falar com alguém vou explodir em mil cacos de mim mesma, vou me tornar irascível,
insuportável e vou acabar metendo os pés pelas mãos e mordendo quem não tem
culpa alguma de nada!
Alguém, por acaso tem culpa
de algo na vida? Nessuno!
Sim, eu sei que homens não
gostam de ler, escrever, falar ou ouvir sobre assuntos abstratos. São, como me
disse outro dia, práticos, simples, diretos. Eu também sou, geralmente, mas vez
por outra, sou o que minha natureza foi feita para ser e nessas horas preciso
falar com alguém e com quem falar a não ser com a única pessoa que realmente me
conhece, a única pessoa diante de quem
não preciso e não quero vestir máscaras? Diante de quem mais eu consigo me
mostrar como sou – fraquezas e fortalezas - senão diante de você?
Então, sento-me para
rabiscar algumas linhas e compartilhar com você o que sinto e uma batalha se
estabelece dentro de mim: o que conheço da psique masculina briga valentemente
com a forte certeza de que você não é tão padrão assim, que tem uma parte que é
humana e sensível e que, sim, você pode não me responder, até nem saber o que
dizer, mas vai me ouvir/ler e de alguma forma, por um caminho seu, particular,
vai fazer algo por mim, porque sempre acontece dessa forma e talvez, mais um
talvez, seja por isso que tenho uma desmedida confiança no poder sanativo do
seu abraço, na força segura que vem do seu “eu”.
Essa é a quarta noite que
atravesso insone. Não consigo conciliar um minuto de repouso, malgrado tenha
assistido todos os filmes e seriados que me agradam e até mesmo as suas
reprises. Meus olhos ardem, meu corpo reclama, minha saúde em breve se ressentirá
da privação do repouso. Não quero estudar, não quero trabalhar. Meu oficio me
irrita, embora eu tenha coisas importantes por fazer. As pessoas me desgastam,
a vida me incomoda e eu queria mesmo era dormir até não sei quando, de preferência
até sempre...
Não, eu não sei o que está
acontecendo. Eu não sei o que está me aborrecendo, me magoando, me machucando
assim tão profundamente. Só sei que estou sentindo um profundo cansaço, uma
solidão enorme, como se de repente o mundo fosse um infindo deserto e eu
estivesse perdida no meio dele: sem bússola, sem água e sem mantimentos!
Queria que o mundo parasse
para eu descer! Mas seria muito bom se eu pudesse descer em Barcelona, em
Paris, em Viena ou no Everest, no Himalaia, no monte Fuji!
Estou muito e muito cansada
de matar um leão por dia, há 18.980 dias... Cansada de ter que explicar todo
dia que mereço respeito, consideração, que sou uma pessoa adulta. Cansada de
dizer todos os dias que as leis tem que ser cumpridas; cansadas de esperar que
alguém olhe para mim e veja quem eu sou, o que eu sou e simplesmente me abrace
e não queira que eu seja como se precisa, mas me receba como eu sou: defeitos,
qualidades, fraquezas e fortalezas e só por essa vez, seja do meu jeito...
Será que a vida tem
meio-fio? Porque se tiver eu quero sentar em um e ficar olhando os carros
passarem, as pessoas passarem, os dias passarem, enquanto eu fico apenas imóvel
observando a passagem e me dissolvendo aos poucos, no pó da poeira e do
esquecimento, talvez imersa em minhas próprias lembranças enquanto me pergunto
se os momentos, atos e fatos, palavras e gestos dos quais me lembro existiram
realmente ou foram um fugaz momento em que minha mente alucinada os criou e
plantou como uma realidade inconteste.
O que é a mentira e o que é
a verdade? Qual é a realidade e qual a alucinação?
Aperto o botão end e entendo a mensagem game over ou respiro fundo e leio a
legenda de pausa entre duas partidas?
O que eu faço? Para onde e
como vou?
Devo contornar as pontes ou
explodi-las? Qual contorno e qual explodo? Porque quando preciso nunca tem
mapa, bússola ou guia? Cadê todo mundo?
Com tantas interrogações na
cabeça e um buraco negro no peito como posso dormir? Ah, sim, deve ser por isso
que o sono sumiu porque foi tragado pelo vórtice do nada que nesse momento
habita em mim.
O navio aportou e quando
desci ninguém mais estava a minha espera. Vaguei pelas ruas abraçada a coisa alguma,
saboreando o gosto amargo daqueles que se sentem desimportantes, sem ter com
quem compartilhar, a quem dizer: tive medo...
”Passo aí depois” quando houver um tempo, um encaixe, uma
necessidade, não por vontade, saudade, querer... Passo aí depois, mas esse
depois tantas vezes foi agora, assim que cheguei!
“Agora está tudo bem, pode
chorar. Fique tranquila, estou aqui!” Para onde foi esse aqui? Onde fica esse
lugar?
Fine del gioco? Avete rinunciato? Devo
rinunciare troppo?
Aiutami: cosa fare?
Um comentário:
Oi Bela! Não faça nada. Melhor deixar o fluxo seguir. As vezes de tanto fazer exageramos o tempo de não descansar. Acomode-se. Existem outros portos. Um deles está aqui. Bj
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