Cheguei cansada e com frio.
O dia foi pesado, difícil, embora muitas pessoas achem
que o trabalho intelectual não cansa. Ainda bem que você me entende: trabalhou
por toda uma vida com a mente, sabe que cansa.
Desfaço-me das roupas que, ao menos hoje, estavam
confortáveis. Tiro os sapatos, reduzo minha indumentária a uma camiseta
quentinha e velha. Subo na cama e me meto entre os cobertores macios.
Quero descansar um pouco, relaxar vendo um seriado, antes
de providenciar o jantar.
Coloco minhas pernas sobre as suas e fecho os olhos. Longe,
a voz do jornalista me dá uma vaga sensação de realidade. Suas mãos magicas
deslizam pelas minhas pernas num carinho silencioso.
Nada melhor depois de tantas escadas, sobes e desces,
intermináveis horas de balcão, que uma massagem nas pernas, nos pés...
Fico pensando nas suas mãos. Observando sem olhar cada
movimento, cada mudança de pressão. São belas mãos. São fortes, são precisas,
são extremamente ternas, deliciosamente sexys.... Acho que esbocei um sorriso:
- o que foi?
A voz que quebra o silêncio de uma forma compassada e
serena, faz vibrar toda a minha natureza de mulher. Apenas sorrio e aceno com a
cabeça em uma negativa.
É tão bom chegar do trabalho e lhe encontrar aqui. Saber
que voltei não para o nada, mas para você, para o seu aconchego, para o seu
cuidado, para os seus braços acolhedores, mesmo que as vezes eles estejam
silenciosamente fechados! Todos temos dias ruins...
Gostaria de ter estado ao seu lado nos dias em que era
você a chegar cansado, mas um bom vinho, como um bom sommelier,
tem seu tempo de cura e nessa época
talvez eu não estivesse pronta para entender e degustar toda a complexa beleza
da sua companhia.
Suas mãos se movimentam num ir e vir e já não estão nas
minhas pernas. Sobem delicadamente pelas minhas coxas, interna e externamente, vão
se alternando. Imagino seu sorriso maroto, sua forma de me descansar.
_ Mãe, desligo a tv?
Mãaaae...
Pulo na cama sem entender o que está acontecendo.
Olho para os lados e não lhe vejo. Na porta do quarto,
meu filho parado sorri da minha expressão assustada.
- Apago a tv? Vc está dormindo...
- Não, não...Estou vendo o seriado!
- Hum, sei...
Estranhamente seu cheiro está no ar, nos lençóis, e na
minha pele ainda sinto o seu toque, a pressão deliciosa das suas mãos...
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