Saio da Justiça Federal em direção a Sobradinho.
Na rua, uma tarde
majestosa e fresca me espera. O sol emite uma luz dourada que se insere pela
folhagem das arvores pouco densas do cerrado e pousa como um beijo sobre o
gramado verde. Tudo parece um grande sorriso de Deus!
Do Torto vislumbro o
engarrafamento que vou enfrentar. Estende-se, visivelmente, até o Taquari.
Lembro de suas palavras: Estrada de Sobradinho só até 16:30...
Quantas vezes e em quantos
diferentes horários já passamos por essa estrada ao longo dos anos que nos
acompanharam? Muitas e muitas e durante muito tempo associei esse recorte
topográfico a momentos de muita alegria e felicidade. Era-me quase impossível
passar por aqui sem sorrir, sem lembrar daquele caminho entrelaçado de arvores
de onde se avista Brasília como se as arvores se abraçassem para formar um
túnel.
Já tem muito tempo que não
fazemos esse percurso juntos e hoje não mais o associo a alegria prazerosa das
pessoas felizes, mas às nostálgicas lembranças dos antigos quando lembram
tempos que se foram. De repente me sinto muito velha!
Tudo que tenho nas mãos
são lembranças! Dizem que isso é a velhice: Quando os sonhos se substituem
gradativamente pelas lembranças e tendemos a nos refugiar no passado porque
nada mais se vê à frente... Será?
Tenho sorrir. O
engarrafamento é longo e terei bastante tempo para lembranças, mas também será
necessária muita atenção. Chorar não convém. Embaça os olhos, diminui os
reflexos, deixa o rosto inchado e estou em horário de trabalho...E afinal, se
não for capaz de sorrir ao lembrar o que passou, para que serviu ter sido
feliz? Não escutei de você mesmo que tudo na vida tem começo, meio e fim?
Sorrio e penso: Mas não era esse o fim que eu queria...
Enquanto manejo as pistas
procurando os espaços que os motoristas menos hábeis deixam vagos, penso em
como toda a minha vida foi assim: Sempre procurando espaços, sem nunca
conseguir encontrar um que me coubesse, acolhesse, acomodasse.
Enfim, quando já havia,
exatamente como acontece agora, na altura da policia rodoviária, me acomodado a
um pequeno e chato espaço na fila, abriu-se uma vaga enorme, com vista para o
nascente e renasci!
Lá estava eu bem crente
que seguiria minha viagem assim, até o fim. Respirei feliz e agradeci ao
destino – chamemos assim para numa respeitosa metáfora – por um lugar tão
privilegiado. E lá pelo meio da estrada um caminhão me fechou e jogou para o
acostamento. Nem consegui ver a placa ou entender o que aconteceu, mas,
certamente a vaga era muito boa para ser minha! Também agora uma caminhonete
enorme pressiona meu pequeno Pálio a sair da frente e lá vou eu, deixando
novamente o lugar para outro!
Atravessado o Colorado, a
estrada flui livre. Aqui em cima, há um céu bonito e pesado de nuvens espessas.
Será chuva ou frio? Não sei, mas penso em frio. Não me parecem as fofas nuvens
cheias d’água. Novamente volto meu pensamento para a sua lembrança – agora você
é quase apenas uma recordação, como se tivesse vivido há muito tempo – gostaria
tanto que estivéssemos vendo toda essa beleza juntos! Talvez soubesse me falar
algo sobre as nuvens e possivelmente teria um ou outro nome feio para elas.
Existem tantos talvez, tantas coisas que gostaria de ter feito com você e todas
elas ficaram no mundo das ideias, embora tivesse sido bem simples realiza-las!
Entro em Sobradinho e vou
olhando o sol que se derrama sobre o gramado. Há um laivo rosa avermelhado no
céu: fará frio a noite!
Quando eu voltar estará tudo escuro. É a vida que se repete no cotidiano.
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