quinta-feira, agosto 03, 2006

Em casa

Parador, Av 5766

Querida Nur,

Muito bom saber de vocês!

Uma deliciosa sensação de aconchego ouvir a voz familiar e amiga que chegou por telefone. Quando nos encontramos desterrados em terras estranhas não há nada de mais confortável que ouvir o familiar idioma de nossa terra...

É verdade que o telefone não nos deixa tanta liberdade no falar como nos permitem as cartas ou a conversa familiar, mas sempre serve para mitigar as saudades sempre tão grandes! Apareçam quando puderem!

Sim, é verdade que há uma nota diferente em minha voz. Ao menos deve ser verdade já que você foi capaz de o constatar sem que lhe dissesse nada e, fique calma, vou lhe contar tudinho, em detalhes.

Por aqui nada há de expressivamente novo: Marcelo continua ausente e a cada dia mais distante! Isola-se progressivamente em seu mutismo, sua ilha de silêncio e intransponível solidão, chego a pensar que um dia não saberá mais falar.

Assim vamos seguido: eu e os meninos e ele. Conjuntos distintos com pontos de rara interseção.

Dia desses, fazia muito calor, fechei o empório e sai para dar uma volta pela beira da praia. Desci pela alameda dos beirais – aquela dos Ipês, caso você não se lembre – pois a vista ali é especialmente bela e sempre sopra uma brisa fresca e agradável. Ia absorta em meus pensamento, o mundo gravitava em torno do meu umbigo, quando esbarrei em um homem alto e forte. Tomei um susto ainda maior ao perceber que era o comandante Jerrez.

Não sei se você se recorda dele, fomos ao seu escritório algumas vezes, logo no início do Empório, quando eu ainda fornecia coisas diversas e fui sua fornecedora de material de escritório.

Jerrez tem quase dois metros de altura e uma estatura larga. Como dizíamos em criança, é um verdadeiro armário. Justiça seja feita é um homem muito elegante e conserva seu belo porte ainda hoje.

Cumprimentei-o cortesmente sem imaginar que ele poderia lembrar-se de mim e para minha surpresa aconteceu exatamente o contrário: o comandante Jerrez parou e com um luminoso sorriso cumprimentou-me enfaticamente. Convidou-me para um hortelã aromático na taberna do Esquisito e conversamos longamente.

Conversamos, na verdade, é uma forma elegante de dizer que fui tomada por um acesso de retardamento e fiquei quase que totalmente muda. Há coisa mais besta que um acesso de adolescência em plena idade adulta? (risos).

Bem, ficamos assim, a saborear a menta aromatizada e colocar em ordem as notícias, até que o sol escorreu pela barra do horizonte.

Em casa lamentei não ter me portado de forma mais equilibrada e ter entabulado uma bela conversar! Para minha surpesa, no dia seguinte, um mensageiro trouxe um cartão em que o comandante agradecia a companhia durante o chá e protestava por uma outra oportunidade de estarmos juntos para um café.

Ainda me sinto abobalhada e feliz...Há tanto tempo que nada de novo acontece nessa minha vida!

São essas as novidades

Beije a todos por mim

Sh