
Quando cheguei a festa já havia começado..
As pessoas andavam de um lado para o outro, agitadas, sorridentes. Falavam e cantavam alto. Desconfortável, observei que meu lugar de costume estava ocupado. Fiquei parada sem saber como agir. Para onde ir. Uma multidão se deslocava em minha direção e roguei a Deus que me poupasse dos abraços e sorrisos que eu não dispunha.
Com os olhos procurei o socorro do seu sorriso, um gesto discreto de mão, um leve aceno a me dizer: entre e sente-se. Esteja em casa. Mas você não me viu. Estava ocupado, distraído, absorto entre seus pares. Feliz, entre sorrisos, nem observou meu desespero. Fiquei ali, parada, clamando por socorro.

Sentei-me assustada. Lancei mais um olhar de socorro/reconhecimento. Não obtive qualquer resposta. Invisível, concentrei-me em desfrutar da festa, ao menos parte dela.
Durante o desenrolar das apresentações, descobri surpresa que muito embora lhe localize sem necessitar de óculos, já não distingo sua voz, seu timbre, como antes fazia. Por um minuto parei para pensar se as vozes estariam tão maravilhosamente misturadas que não distingui, ou se meus ouvidos já não são capazes de reconhecer por falta de lhe ouvir...
Meu coração acabrunhado não conseguiu, como de outras vezes, se encher, se expandir, sintonizar-se, alimentar-se daquele bobo orgulho de lhe ver tão belo, tão austero, tão você. Tímido, não se sente mais no direito de lhe admirar. Ferido, exangue, já chorou tanto que está fraco demais para sorrir. Quebrado, pisado, amarrotado, não sabe como bater por você... Ficou ali, parado, olhando e perguntando: Por quê?

Por muito tempo aguardei que aparecesse. Queria lhe cumprimentar. Queria lhe dar um abraço. Falar, mesmo sem palavras, de paz, de carinho, de alegria e confraternização. Distante, frio e seco, você me agradeceu a presença e disse: vou embora, ainda não almocei e saiu.
Atravessei a multidão sem rumo e sem saber se realmente deveria ter ido, deveria ter atendido ao seu convite. Ao volante, minha alma escorrendo pelos meus olhos mal me deixava ver a rua. Estou vazia, apagada, mortificada.
Pelo telefone, uma resposta curta e cirúrgica, atendeu a uma pergunta longa e bem explicada. Substituiu o que antigamente teria sido: Obrigada. Gostou? Estava bom? Gostei ou não gostei do seu vestido...
Atônita, não sei o que fazer. Não sei o que está acontecendo. Creio em milagres. Creio no presente de Deus e no fato inconteste que Ele não tira o que dá. Creio no sorriso que vi e que por um momento reviveu minha alma, mas não sei como alcançá-lo.
Não me sinto mais com forças!

Dobro os joelhos, mas não consigo orar, então, como Davi, apenas choro.
Sim. Haverá abundante chuva! Sim. Aquele sorriso foi apenas a pequena nuvem!