segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Fotografias

Eu faço mar/você barco
Vamos brincar de viagem
Eu sou remo/você âncora
No mar precisa de coragem
Eu sou vela/Você mastro
Vamos correr pra outra margem (...)
BRINCANDO – Mabel Veloso


Os últimos raios de sol escorrem pelo horizonte entrando pela minha janela num doce carinho. Sobre o colo tenho lembrança, fotografias, imagens de momentos especiais, locais, momentos que gosto de revisitar, palavras que gosto de redegustar, acariciar...
            O raio tímido desce lentamente pelo meu rosto, percorre meu pescoço, meu ventre e pousa nas fotos que descansam sobre minhas pernas. Sentada, como um Buda sorridente, observo as fotos pareadas e sorrio.
            Uma das imagens mostra um belíssimo homem trajando um elegante esporte fino escuro. Calças, sapatos e meias pretas com camisa preta de listras brancas em dois diferentes diâmetros. Seus cabelos macios estão entre minhas mãos e ele tem um sorriso divertido   escondido no canto dos olhos.
            No outro quadro esse mesmo homem usa calça jeans clara, tênis, meias brancas e está sem camisa. Está concentrado em um pequeno arranjo que suas mãos hábeis desenvolvem. Serio, é igualmente belo no seu porte imponente, na elegância dos braços bem torneados, no peito largo e sedoso, no delicioso aroma que exala. Impossível não perceber que sob o Jeans existem pernas esculturalmente formadas.
            Em uma e outra gravura, a mesma pessoa em momentos distintos, como uma paisagem em diferentes horas do dia, todavia, um e outro, me estremecem de forma diferente.
            O homem em seu traje de passeio faz de mim uma criança deslumbrada, acorda a adolescente apaixonada diante do seu primeiro amor: aquele rapaz da casa vizinha que já faz faculdade e nunca vai olhar para ela, mas ela sonha com ele todos os momentos e fica no portão só para o ver passar! 
A menina de tranças conhece o barulho do motor do carro, sabe a placa e todos os horários do rapaz, conhece seu cheiro e as musicas de que ele gosta, ensaia mil diálogos, mas quando, por ventura, ele vem até a sua casa, fica muda e incapaz de uma só palavra.
            O cavalheiro, concentrado, no seu jeans claro e sem camisa faz de mim uma mulher, ensina-me coisas sobre mim mesma que jamais imaginei: Em sua presença sou toda pele, nervos e sensações, sou hormônios, feromônios, pele, tato, instinto e desejo... Primitiva, primal, os tambores de Beltrane soam dentro de mim no compasso da terra.
            Quero estender as mãos e tocar, apalpar, sentir e cheirar: a vida quer se realizar, concretizando-se no espetáculo da cocriação encenado pelos corpos entregues ao êxtase.
            Um e outro, sendo o mesmo, desperta em mim tão diferentes emoções e tão completa sensação de plenitude que me perco em mim mesma desejando apenas fundir-me nele, navegar na profundeza do seu olhar e sob o comando dessas mãos firmes guardar-me no ancoradouro do seu peito.
 Não esqueci seu nome, seu rosto sua voz
Outro dia eu te vi numa tarde tão veloz (...) corrii atrás, tarde demais, perdi a condição
De conversar, te convencer
Te confessar, quero só você
Sei que isso não tem  importância
Pra você não faz sentido (...)
Amanhã, pela manhã,  a gente pode sair pra conversa (...)
Te convencer, te confessar
Quero só você
A VIDA TEM DESSAS COISAS – Bernardo Vilhena/Ritchie