segunda-feira, novembro 17, 2008

Notícias do Exilio

Nur,
 Receber notícias suas é sempre como acender o sol no meio da noite!
Aqui,  nessa imensidão gelada, faz muito frio e é muito escuro,  apesar das grandes planícies geladas.     
   Para quem veio do mediterrâneo com seu mar  azul, seus dias quentes e  multicoloridos, casas brancas pelas encostas dos montes, janelas salpicadas de gerânios vermelhos,  rosas  colombianas e noites de sol, a Sibéria é muito triste. 
   A neve daqui não é como  a que conhecemos: flocos  macios deslizando do céu como se S. Pedro brincasse de fazer pipocas e as derramar sobre nós. Não, a  neve daqui é cortante e árida. Machuca a pela, enrijece a alma!
    Seguindo sua sugestão, fiz uma faxina no meu cantinho, no meu  escritório e na minha mente. Fixei uma bela imagem de Parador na parede de frente ao meu local de trabalho e, sobre a cômoda do quarto, coloquei meu fino vinho espanhol, meu xerex, Jerrez, para ajudar-me nesse longo exílio do mundo das cores.
    As pessoas daqui têm um mórbido horror a tudo que resplandeça a felicidade e cor, assim foi que minha palheta de cores foi-me subtraída, meus ingressos ao arco-íris vetados, restando-me sonhar e lembrar, pois, graças aos Deuses no pensamento humano ninguém manda.  Conheces-me o suficiente para saber que, tanto quanto possível, mantenho um sorriso no rosto e um dolce far niente de impressionar a qualquer dandy do velho mundo das luzes. Por dentro, enlouqueço a cada dia enquanto busco achar a formula que me reconduzirá a liberdade!  Momentos atrás, escrevi a Penélope, que também buscava noticias minhas, dizendo-lhe: A novela, como todo bom drama mexicano, oscila entre momentos de amor e ódio! No momento "Tiao Gavião" me mantém prisioneira na torre do castelo, cortou minhas tranças e não deixa a quadrilha da fumaça chegar perto...rs...Enquanto eu pergunto quem poderá me salvar, retoco meu batom, faço juras de amor eterno e penso numa forma de pegar uma carona nas asas de uma borboleta, passear no rastro da lua e voltar junto com o primeiro raio de sol! C'est la vie!  Ao acordar tomo um cálice do meu vinho predileto e ao dormir outro para me embalar o sono. Vejo fotos, lembro das estradas que me conduziram a tantos momentos deliciosos.
        A voz do Comandante  chegou-me aos ouvidos, outro dia, como o barulho da água rolando sobre seixos polidos, como o sussurar das folhas no seio da floresta. Pareceu-me até que o sol saíra só para me ver. Tão rápido quanto delicioso foi o momento, que me pareceu uma eternidade contida em menos  de um punhado de segundos.
      Lembrou-me a música Pensar em você: É só pensar  em você que muda o dia,minha alegria dá para ver...
      Nur, querida, sei que tudo que tem um começo tem  também um fim, mas realmente gostaria que ao voltar desse exílio ainda pudesse encontrar minhas  palheta de cores no mesmo lugar: nos braços fortes, na pele macia, no rosto bonito e na alma cavalheira  deste fino vinho espanhol que é Jerrez!