sábado, agosto 06, 2011

Rendição


Criei barreiras para me proteger de você, construí muros, barragens, levantei cercas imaginárias, proteções intelectuais, me convenci de sua partida enquanto seu cheiro era tatuado em minha pele.

Contei a mim mesma, inúmeras vezes, como seria sua partida e a mim mesma respondi que não sofreria porque tudo era sazonal, passageiro...

Deixei claro, em longos e coerentes discursos internos, que você não era mais que um acidente eventual de percurso, enxuguei a possibilidade de qualquer lágrima, vesti-me da couraça indiferente e parti segura ao encontro dos seus braços

Você cresceu dentro de mim. Suas águas se avolumaram, fizeram pressão contra as paredes criadas, arrebentaram a barragem, inundaram meu ser e, de repente, tudo que eu tinha para me mostrar o caminho era a sua imagem gravada em minha retina.

Quase afogada, submersa nos meus próprios sentimentos, seu braço me vestiu no abraço salva-vidas que manteve minha cabeça à tona. Respiro e o ar está impregnado do seu cheiro. Encho os pulmões quase colados, a vida retorna lentamente. Abro os olhos e vejo você.

Seu sorriso menino, tão homem, é  sol que esquenta e acalenta e só saber-lhe é suficiente para dilatar-me em vida.

Abraço seu tronco perfeito e me aninho na curva do seu braço. O abraço que me veste, conta as vértebras distraído, tem a perfeita sincronia de estar em casa, no ninho.

Meu sorriso suave, escondido no manto do seu peito, reconhece a ineficácia de minhas proteções... Você faz parte de mim!