terça-feira, agosto 26, 2008

Elegância

Minhas mãos em conchas guardando o teu rosto, meus dedos brincam na maciez dos teus cabelos, tua beleza se estende sob meu olhar admirado. Meu olfato inebria-se com teu aroma, sorve-o deliciado. Meu rosto curva-se em tua direção para sentir, tête-à-tête, a textura de tua pele.

Toco-a com a ponta de língua, delicadamente, lasciva, mas respeitosamente. Gosto de fruto maduro no qual o sol e a chuva temperaram suculento paladar. Aroma fino, elegante, sedutor como sedutoras são as pernas que abraço: delicado e preciso trabalho de fina escultura. Beleza rara de colunas bem assentadas.Bases perfeitas.

Elegância é o teu tema porque esta palavra é extensa e vai além da roupa bem cortada, cara. Elegância transcende a beleza: é um estilo, uma coerência, um modo de ser. Algo inato, intrínseco, próprio. A precisão dos movimentos, a forma de falar, andar, agir. Elegância é um sem número de coisas que juntas formam um conjunto indefinível, mas palpável.

És absolutamente elegante de terno, jogging ou bermudas. Curvado, experimentando a temperatura da água, vestido de céu, tens uma graça impar, absolutamente máscula, inebriante, hipnótica e enquanto tua imagem se mostra indelevelmente tatuada nas minhas retinas, minha mente percorre as dobras do tempo em busca de todas as inúmeras vezes em que já te avistei sem que jamais o tenha visto menos elegante que neste momento em que tuas mãos traçam o intricado nó de uma gravata...

As observações femininas, que sempre cercaram você, zumbem nítidas nos meus ouvidos fazendo suscitar um anão malvado de olhos verdes. Afasto-o com um sorriso, não me é permitida a companhia deste moço chamado ciúmes.

Tua beleza, que não é física apenas, tua elegância, que transcende qualquer conceito, me bastam porque chegam sempre repletas de um carinho que sacia, alimenta, completa. Olhar-te, sentir-te, estar entre os teus braços – abraços – é como provar água da nascente que se abre ao sol da manha vindoura. Pura entrega, enlevo e música.

Nada mais além do tempo que pára e nos observa crianças a brincar no regato da vida. Nada que não sejam os teus braços em volta de mim, os teus dedos tamborilando nas minhas costas, o meu rosto enterrado no teu peito e o som da tua voz como a água rolando nos seixos enquanto a copa das árvores filtra o sol para que não faça calor demasiado.

Nada pode ser tão elegante, singelamente forte e belo quanto esse momento.

Minhas mãos em conchas se abrem vazias, o abraço fresco da noite invernal me traz de volta a realidade. Ao meu lado faz frio e o escuro enche o ar com teu cheiro e calor... Saudades tuas concretizadas nas águas que jorram em mim.