quinta-feira, agosto 10, 2006

Navegando

Parador, 9 Av 5766

Querida Nur,

Estejam as bênçãos de todos os Deuses sobre você e sua família!

Sua carta encheu meu coração de alegria e meu espírito de profundas reflexões. Como sempre, você é minha melhor terapeuta e mais eficiente preceptora: aprendo, sempre, muito com você e se o aprendizado não torna o caminho mais fácil, certamente torna mais colorido porque é muito melhor entender a paisagem pela qual navegamos a navegarmos no desconhecido. Até mesmo as tempestades são mais amenas se entendemos seu mecanismo.

Por aqui não há novidades tão significantes no nosso dia-a-dia. Os meninos seguem bem e eu levo minha vida pacata de entressafra comercial. Sempre se vende alguma coisa, mas nunca no ritmo normal. Marcelo cada dia mais isolado, verdadeiramente je aller planter ses choux, o que torna a convivência familiar uma obra de ficção social ou um mero referencial psicológico...Seria isso possível? Não sei, já não sei mais nada no presente momento!

Os questionamentos feitos por você foram muito profundos e pertinentes, porém extremamente difíceis de serem respondidos! Eu diria que se assemelham a perscrutar o inicio do Universo ou a insondável substância da alma.

Como traduzir em palavras as sensações, como entender o pano de fundo das emoções, das relações, da magia – muitas vezes efêmera – que abraça um homem a uma mulher? Muitas vezes penso na imagem da lua que é um espetáculo maravilhoso quando e, tão somente quando, na noite escura o sol se escondeu. Ela precisa da luz solar mas não da presença do sol para sua existência irradiante!

O que me uniu ao Marcelo? Que tipo de expectativa animava meu coração, quais valores estavam ou estão envolvidos nessa relação? Tudo muito simples e muito complexo também. Lembra aquele provérbio rabínico que diz que as coisas mais profundas encontram-se na superfície, todavia necessita-se mergulhar ao fundo do mar para o descobrir!

Escrevo para você aqui do meu refúgio. A vista da enseada tranqüila me traz o sossego necessário para pensar e meditar sobre todos esses complexos temas. Quando a lua surge na linha do horizonte e o espelho negro do mar a reflete em sua plenitude, todos os humanos problemas tornam-se grãos de areia nas praias da vida!

Ocorre-me a estorinha do Barba Azul e da análise Jungiana dela que remete a falta de atenção que as mulheres costumam ter para com seus pressentimentos...Por muito tempo resisti a esse relacionamento mas ao final capitulei diante da solidão do discurso fraterno e amigo que ele tinha. Na verdade penso que a solidão nos uniu, bem como a solidariedade em tempos de adversidade. Acabamos nos unindo aos nossos sentimentos e expectativa ao invés de nos unirmos às pessoas, acho que esse é o fio de Ariadne e assim nos encontramos enrolados em nosso próprio nó!

Quanto ao Capitão Jerrez, bem isso é assunto para um outro dia , com mais vagar e uma alma mais leve e menos orvalhada!

Beijo-te e aos teus

Sh