segunda-feira, março 17, 2014

480 horas em um mundo Gris

                É desse amor que eu preciso;
Preciso e não posso esquecer:
Eu faço de tudo no mundo
Pra não te perder.
(Me Leva – Diogo Nogueira)

Na quietude fria da noite, meus passos soam como ponteiros desorientados de um relógio sem prumo. Caminho a esmo sem conseguir dormir. O silencio da noite e os barulhos da rua ressoam os muitos pesadelos que me assaltam e dormindo ou acordada sempre me visitam.
                Gostaria de ter asas para atravessar a cidade, gostaria de ser invisível para ver sem ser vista. A ausência provoca uma dor constante e inquietantemente amedrontadora. Faz surgir fantasmas e dá a palavras banais sentidos cabalísticos.
                Já não é possível agir com racionalidade. Ela sempre desaparece após o meio da tarde.  É como uma chuva de monção que tem hora certa para chegar e sair: Nasce com o sol que promete um novo dia, mais luminoso e feliz e vai declinando com o passar das horas que escondem a aquarela capaz de iluminar o meu dia. Absolutamente tudo ficou sem graça e gris, um grande e longo mundo cinza com horas longas e intermináveis, costuradas em silêncios e esperas.
 Queria dormir até que você pudesse vir me despertar. Queria proteger-me na amplitude do seu abraço e sentada no seu colo, como em tantas outras vezes, esconder minha cabeça na curva do seu pescoço enquanto, sentindo sua mão deslizar pelo meu cabelo, entendo que tudo está bem e não há nada  a temer!
                O calendário é implacável e me oferece, dia-a-dia, mais vinte e quatro horas sem você, mais um nascer e pôr-do-sol onde o calor de sua presença foi ausente e perdeu-se em silencio e abstração.

                O que resta de mim em você agora?  Ainda há um nós perdido nesse imenso espaço físico chamado cidade? Em meio ao mar de vozes que lhe circunda ainda é capaz de me ouvir? Chamo baixinho e o som me acalanta. Minha alma grita alto, quer atravessar o espaço e chegar até a sua: seria possível? A noite me retorna silencio. Sinto frio e medo.
Eu enfeito a minha casa com as flores
Que roubei do seu jardim
São os erros do desejo
Você está em tudo que eu vejo
E agora
Tudo parece menos real
Menos carnaval
(Menos Carnaval – Bebel Veloso)