sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Observando

Parador, 18 Shevat, 5767

Sentada a varanda observo o sol mergulhar no horizonte. Na rua fronteiriça as vidraças enchem-se de um dourado intenso enquanto o céu toma para si uma infinitude de tons que passeiam do chumbo ao vermelho apaixonado: Tendo por regente o vento do entardecer, o firmamento executa uma sinfonia de cores!

Meu olhar vagueia a esmo a procura de uma âncora. Gostaria de dividir essas impressões com alguém, comentar o momento, os matizes, as delicadas tessituras com que se tinge o horizonte nesse instante de lusco-fusco...Há anjos tocando harpas silenciosas e dolentes, a nostalgia da música escorre pelas vidraças em reflexos multicores realçando o branco e preto em que me vejo imersa!

A sensação de um abraço forte e acolhedor percorre meu corpo reproduzindo a calidez de momentos fugidios; lapsos temporais em que tento construir uma outra realidade.

Uma voz profunda, firme e doce, conta historias passadas, discorre sobre recordações próprias projetando no olhar um tempo de lembranças...O braço que me segura a cintura permanece túrgido a guardar-me rente enquanto, acomodada na envergadura macia e alva, repouso minhas mãos sobre colunas dóricas cuja solidez desafia a possibilidade de um andar silencioso.

A espuma, menina caprichosa, brinca com meu rosto; brincamos juntos resgatando a criança que fomos um dia, libertando-nos – por segundos – das lides cotidianas.

É assim que se constrói a felicidade: pedaços brilhantes de estrelas cadentes soldados com o fio da recordação, embalados pela brisa vespertina que nos devolve a realidade!