quinta-feira, agosto 08, 2013

Medo Noturno

                Acordo no meio da noite e minha cama é demasiado grande sem você, Sinto frio e não sei ao certo se está frio ou se o frio que sinto é a sua ausência. Há dias não nos vemos. Muitos dias no meu calendário particular. Sem culpados que não seja a própria vida, isso não diminui a saudade, a falta ou a urgência em lhe abraçar.
            Sei que você está machucado. Seu corpo físico está machucado, mas sua alma também está. Você não quer falar disso e tenho que respeitar, então me calo. Em todos esses anos que caminhamos juntos enfrentamos muitas tempestades e também tivemos momentos, a maioria deles, de bonança e alegria, de gozo e fruição. Todo o tempo você foi o presente de Deus que me deu suporte e segurança. Repousei em você nos piores e mais difíceis momentos com a certeza da sua proteção, ainda que discreta. Queria muito que fizesse o mesmo, que soubesse que também sou forte e posso apoiar você.
            Ao longo desses dez anos envelhecemos com certeza. Temos mais cabelos brancos e nossa pele não tem o mesmo frescor. Minha cintura perdeu centímetros relevantes e minhas mãos já denunciam o passar dos anos, mas quanto retenho o seu rosto entre minhas mãos, o que vejo é o mesmo rosto que me tirou o fôlego há vinte anos...
            A voz que sussurra aos meus ouvidos conduzindo-me ao êxtase é a mesma que há dez anos deixou meus joelhos trêmulos quando atendi o telefone do Gabinete, nada mudou. Ainda meu coração dispara numa louca cavalgada quando vejo sua figura que se aproxima e como naquele dia em que quase não consegui descer as escadas da Defensoria, ainda me pergunto se estou adequada e se vou lhe agradar.
            O seu sorriso me deixa tão criança quanto sempre deixou e quando sinto seu corpo sobre o meu, penso, hoje, como na primeira vez, que você é tudo que eu sempre quis. É meu sonho realizado, concreto.
            No silêncio da noite, enquanto a saudade é como uma chuva fina que cai insistente, lanço meus braços pela imensidão que nos separa para tentar alcançar seu colo e encaixar-me no seu amplexo.
            Não quero pensar no que encontraria se pudesse fazer isso, luto contra um medo insidioso, que se instala, de perder você, de tudo não passar de um sonho que sonho sozinha, de uma miragem da qual vou acordar a qualquer momento.
            Abro e-mails antigos, afogo-me em palavras carinhosas, pores de sol descritos com carinho e saudades, para afugentar todas as ideias que a sua falta tenta impingir em mim.
            Nesse momento tenho urgência de lhe abraçar. De sentir o calor que emana gostosamente da sua pele, não para, como dizem os espanhóis, “acostarme”, mas para sentir-me segura, guardada na imensidão do seu peito gostoso. Sentir seu cheiro, sua pele contra a minha, seus braços que se fecham ao meu redor deixando seus dedos tamborilar na minha coluna...
            Exatamente agora tenho muito medo, mas não sei de quê – ou talvez saiba só não queira admitir – e seu abraço seria o refugio perfeito para mim. Nele poderia silenciosamente readquirir a altivez que você chama de rebeldia.

            A ausência tem um peso grande. Paradoxalmente você foi a única pessoa que conseguiu me ensinar o significado de ter alguém, ser de alguém, pertencer a alguém...Talvez por isso eu tenha tanto medo agora!