segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Saudades de você

               Hoje eu pensei muito em você. Não sei porque, mas senti saudades do seu jeito moleque e debochado de me chamar de mulherzinha, a querer dizer que eu seria sempre menina, criança, mas sempre acrescentando que eu era uma mulherzinha muito interessante, muito inteligente... Senti saudades da forma folgada como invadia minha casa a qualquer hora que lhe desse vontade de me ver, me ligar, me falar e do seu carinho tão terno que nunca vou saber definir, explicar.
                Lembro-me você chegando a meia-noite, sem cerimonia, fugindo da festa barulhenta da sua filha – uma mulherzinha muito interessante e excessivamente bonita, risos – vestido numa horrorosa camisa verde escura, ou em pleno alvorecer – linda camisa listrada, bermuda preta – para me dar a metade do seguro do seu carro que fora perda total! A outra metade? Bem, você deu a sua filha que também estava precisando. E todo o carinho, e todo o cuidado que teve ao me entregar o envelope para que isso não maculasse a nossa relação: que relação?!
                Amávamos tão ternamente, tão doce e puramente que sequer conseguimos formar uma relação. Era tudo muito etéreo, delicado, frágil, embriagante... Seguimos assim até nos perdermos de vista completamente e hoje, sim, hoje acordei com muitas saudades de você!
                No trato comigo o homem arrogante sempre desaparecia, e muito embora o deboche fosse um traço seu, a ternura com que o revestia fazia-o doce, suave, meigo.
                Talvez, só talvez, se você estivesse aqui eu pudesse me sentar no seu colo e perguntar porque ele faz essas coisas, porque precisa de tantas regras, de tantas proteções... Quem sabe você poderia me explicar se ele não me entende, se ele me teme, ou teme a si próprio e poderia me contar uma longa estória de ninar onde o príncipe finalmente entendeu que ter medo do tempo é o mesmo que correr contra ele...
                Não sei, quem sabe você me diria que deixasse ele pra lá e ficasse com você, mas então eu teria que lhe responder que é tarde demais para isso: eu sou irremediavelmente dele no riso e na lágrima, é aqui o meu lugar, ao menos enquanto houver um lugar para mim!
                Sei, sei sim que você iria brigar e sorrir e me abraçar. E me dar um beijo e mais um e me dizer que eu sou uma mulherzinha muito especial...

Sim, hoje eu acordei com muita saudade de você! Então, aí no coro dos anjos, onde você está, cante uma canção para me acalentar, sente-se aqui ao meu lado, me ponha no colo, enxugue as minhas lágrimas e me faça dormir porque hoje eu sou só uma menina na qual dói e dói e dói.