sábado, agosto 18, 2007

Respondendo a tua pergunta...

A pergunta sobre o meu desejo soa direta, sem rodeios .

Respiro fundo e abraço as costas extensas, escondendo meu rosto na dobra do pescoço enquanto murmuro palavras ininteligíveis que transformam explicações em beijos.

Sorvo longamente teu cheiro, percebo tua pele, tua força transformando em inundações as batidas descompassadas do meu coração, o ofegar da respiração.

Materializo a resposta que me parece impossível verbalizar.

Como se pode explicar o calor que percorre o corpo e o afogueia ao simples lembrar de um toque, um odor, um nome... Como se fala da ânsia que arrepia a pele, intumesce os nervos e faz nascer uma vontade quase insana de um abraço, da pressão de um corpo sobre o seu? O calor de uma virilidade madura, sensível, terna...

Não, não saberia falar sobre esses sentires. São sensações demais para serem traduzidas em palavras, então te beijo com sofreguidão oferecendo-me como resposta a qualquer outra pergunta que deseje formular.

Fecho os olhos e tua imagem está nitidamente gravada no fundo das minhas retinas. Respiro lentamente pressentindo o momento em que nos fundiremos confundindo os corpos numa insana tentativa de sermos um só.

Tuas mãos deslizam percorrendo meu contorno.São carinhosas, fortes, firmes, tomam posse de toda a extensão que percorrem. Deixam sua marca, imprimem seu cheiro em toda a minha extensão,invadem-me fixando, no mais profundo de mim, uma tatuagem indelével.

A essência do que sou sai do seu invólucro e atravessa o espaço tentando mergulhar no mistério do seu olhar: noite plúmbea de estrelas incandescentes.Pairo além dos tempos, flutuo no quase êxtase de estar em mim e em ti, em todos os lugares ao mesmo tempo, preparo-me para compartilhar do momento exato em que o sol explode com todo o vigor e beleza na manhã nascente.

Peenches-me com a força da tua libido. Percebo-te no mais intimo de mim e o teu desejo produz exudações ainda mais profusas preparando o terreno para receber a semente que virá em deliciosos jorros, espalhando a certeza de que somos co-criadores do momento em que a luz se fez verbo pela primeira vez.

Agora tens estrelas no fundo dos teus olhos que, aos poucos, se apequenam na exata medida em que te movimentas com mais vigor.

Trocamos palavras que não deciframos, mas passam pelos nossos corpos, ouvimos em outra esfera de entendimento. Pulamos juntos nesta viagem delirante que comandas com perfeição.

Sorrimos. Crianças felizes, traduzimos no abraço a cumplicidade do nosso folguedo e fechamos os olhos deliciados com nós mesmos.

Toco teu rosto com toda a ternura que ainda possa existir dentro de mim: és tão mansamente belo, suave na tua força...Observo-te encantada comigo mesma.

Queres saber do meu desejo? Não sei falar sobre tais assuntos, sinto-me pejada!

A

quarta-feira, agosto 15, 2007

Zeus e Afrodite

Ao longe, os ipês começam sua floração pintando a paisagem em vibrantes tons de amarelo, lilás e rosa enquanto pela barra da janela o final da tarde se faz anunciar no céu cinzento que escorrega dos galhos desnudos do arvoredo.

A escultura grega, entalhada no teto, mostrava Zeus e a Madona em um abraço aconchegantemente sensual. Suas pernas bem talhadas e semi-flexionadas fundiam seu corpanzil anguloso a delicada estrutura feminina, enlaçando-a com um braço que lhe envolvia o tronco conservando o busto ao largo dos olhares curiosos.

Perdeu-se em abstrações enquanto observava o quadro à luz difusa de uma tarde outonal. Reminiscências rondavam seu espírito, como raios de um sol que exita em ir-se.

Vieram, primeiro, as sensações táteis: o toque suavemente firme, o calor que emanava da pele. Em seguida, os cheiros e o gosto, para , finalmente, tornar-se um quadro com sons inaudíveis de palavras sussurradas de espírito para espírito.

Destes encontros saía sempre com a sensação misteriosa de haver mordiscado uma beirada do infinito, um encontro com o mais sensível e incógnito que existe no ser humano: a profundidade de um céu enluarado.

Uma memória assomou-lhe a mente, sorrateira e forte: desde que, em criança, contraíra determinada moléstia, passara a ter verdadeiro horror aos aromas sulfúricos e no entanto, agora, eles lhe chegava aos sentidos com uma suavidade deliciosa, misturando-se a outros perfumes sem os macular ou impor sua presença. Sorriu percebendo que o caminho que se percorre interiormente nem sempre se casa ao mundo externo. Para cada momento da vida há impressões compostas de odores e sabores próprios, atos e pensamentos singulares.

Olhou para o teto no exato momento em que Zeus abriu os olhos!