quinta-feira, julho 10, 2014

Serenidade

Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido. 

Luís Vaz de Camões (1524-1589)


                Um halo doce e suave me envolve, um como pisar em nuvens. Não me inebria uma felicidade avassaladora, mas antes me preenche uma calma, um acolhimento de tranqüilidade e aconchego.
            Em nossa vida diária, ao sermos apresentados as pontes que temos pelo caminho, temos que saber quais ultrapassar, quais contornar e quais explodir. Creio que ultrapassamos uma ponte importante embora não saiba seu nome ou para qual direção nos leva. Apenas sei que precisávamos ultrapassá-la e ela foi vencida com êxito.
            Ao meu lado seu rosto sereno repousa, seu braço poderoso me cinge ao seu corpo gostoso, nossas pernas se encaixam na simetria de compassos semi-abertos.
            Sua voz começa calma a falar de contos de contar lembranças. Retroceder, apresentar quadros, desenhos, imagens. Desloco-me com você, caminho pelos fatos, tento sentir, entender. Viro-me lentamente e seu rosto está à altura do meu.
            Uma boca linda, uma voz encantadora, narra fatos como se escorregasse por plumas. Meus olhos se enchem de admiração silenciosa e reverente.
            Escorrego no seu abraço que me lembra que é hora de soltar os ponteiros do tempo, maldito tempo que sempre me leva você! Será que um dia ele me deixará saciar da sua companhia?
            Em meus sonhos durmo na curva do seu braço, ao enlace do seu abraço, na maciez do seu peito largo... Será um dia?
            Por agora voltamos ao mundo dos homens e a cidade nos recebe de braços abertos a exibir seu lindo colar de luzes. Descemos pelas ruas, viadutos, avenidas. Não vá ainda!
            Em casa há festa, musica e juventude. Forço o sorriso, brinco, mas meu coração partiu junto com você, embora pela primeira vez, de alguma forma, sinta que parte do seu ficou no lugar dele...
            Levo às mãos ao rosto e você ainda está nelas. Seu cheiro está pelo meu corpo, sua serenidade impregnou minha alma. Te quiero, mucho, mucho!
            Já é noite. Faz frio. A lembrança do seu abraço me aquece e embala. Quero sonhar com você, quero você, ao meu lado, sempre.

            Fica?