quinta-feira, janeiro 20, 2022

SÓ O AMOR NOS ETERNIZA

 

Foi Deus quem mandou você pra mim

A minha alma se acendeu
O mundo todo renasceu
Meu coração agora vive em paz

Aleluia, aleluia
Aleluia, aleluia (Aleluia - Lucas Berton)



Somos enormes colchas de retalhos modificados a cada dia por uma nova costura, um novo cerzido sobre o rasgado de uma dor, um novo bordado, babado ou cor. Micropeças de emoções, positivas outras nem tanto, vão se encaixando e formando o grande e lindo quebra-cabeça que somos, cada um de nós, particular em seu desenho e cor!

Desde que lhe conheci, você sempre foi o iron man. Forjado de uma liga especial, capaz de sorrir e bater, ser flexível como uma criança e implacável como um pai enfurecido e só muito recentemente – considerando o tempo que nos conhecemos – foi que me dei conta de que você não foi sempre assim. Tornou-se assim... Mas e o “Tony Stark”? Quem está por baixo do homem de ferro? Como essa armadura foi criada, montada, estruturada?

Como esse coração doce e terno se enclausurou em uma armadura de titânio?

Tento montar esse quebra-cabeça enquanto assisto distraída a um ou a muitos filmes da tv ou da vida real. São inúmeras as vezes em que me pergunto como você teria reagido a determinadas situações, a quem teria recorrido, que resposta recebeu, se teve ou não ajuda em determinados momentos e minhas perguntas caem no vazio do não saber!

São tantas as coisas que não tive teve tempo de aprender sobre sua vida, sobre você! Ainda havia tantas histórias para serem ouvidas, paisagens para serem visitadas de carona nas suas lembranças... Recordo-me com imenso carinho desses passeios, das visitas às suas reminiscências: momentos de grandes aprendizados sobre quem você é, momentos de construção do enorme respeito e carinho que lhe dedico, mas, sim, sempre existe um mais e esse diz que ainda havia muito, muito mais para ver, ouvir e aprender.

Se eu tivesse visto um pouco mais dessa fantástica paisagem que é você, talvez agora eu soubesse entrar pela armadura do iron man e poderia abraçar o Tony Stark, silenciosamente, porque mesmo o homem de ferro preciso de um abraço quando em vez...


Tenho tanta vontade de fazer isso, de abraçar você, muito além do que seja abraçar seu corpo – o que já é uma superdelicia – e ouvir o doce e forte bater do seu coração... 

Não, não queria lhe abraçar em público, não quero e nem preciso contar aos mil ventos que lhe abracei. Queria um abraço silencioso, calmo, sem defesas.

Algo como me sentar e ir desmontando a armadura, peça-a-peça, aos poucos e docemente até surgir aquele sorriso maravilhoso, até conseguir ouvir a alma que é capaz de mandar, ordenar, comandar, cantar e sussurrar do erótico ao terno com a mesma maestria e vendo o sol tão lindo que existe por baixo dessa capa medonha, sentar-me e me aquecer ao seu calor!

           Não sinto só saudades, essa é uma palavra que aprendi duramente que não traduz jamais o vazio de uma ausência. Sinto sua falta em todos os momentos do meu dia, em todas as coisas que faço, desde o cacto que acabei de transplantar até o telefonema do meu filho no meio na madrugada para me contar extasiado que o bebê mexeu... 

O que se diz a um futuro pai nesse momento? Não sei, não deu tempo de você me ensinar isso!

Tropeço em você em todos os cantos dessa casa, como se você tivesse efetivamente morado aqui. Você é parte integrante dessa casa, como é de mim, da minha vida e de tudo que penso e faço e tudo isso, confesso, é muito estranho para mim que nunca me imaginei capaz de algo assim, aliás, nunca nem mesmo acreditei que isso acontecesse.

Foi divertido, outro dia, ouvir alguém dizer: Nossa, ainda bem que ela superou a separação... É, aprendi a conviver com a separação como se convive com uma dor crônica: ninguém precisa saber que existe, né? É segredo entre mim e Deus, que me ouve todos os dias pedir por você, por seus planos, por tudo que você ama.

Li em algum lugar – provavelmente em um livro de filosofia – que só o amor pode nos conceder a eternidade, pois só morremos realmente quando ninguém mais lembra de nós!

Fez sentido e por esse prisma, caso eu fique aqui mais tempo que você – realmente não desejo isso. O mundo vai ficar muito sem graça se eu não tiver certeza de que você está sorrindo em algum lugar – posso lhe garantir a eternidade. Acredite nisso, embora eu mesma ache incrível.

Outro dia, questionada se vou permanecer sozinha para sempre respondi que não vivo só: tenho um mundo de recordações que me fazem companhia a cada momento. Não me sinto só, jamais.


Iron Man, Super Homem, Mulher Maravilha, 007... Todos são eternos porque impactaram as pessoas, se fizeram amar pelo que representaram para muitas pessoas e seus nomes atravessam as gerações e chegam ao Miguel, à Julia e chegará aos seus filhos, possivelmente.

Esse tipo de amor, construído pelo respeito, admiração, pelo reconhecimento dos valores, mais que do frisson hormonal, é o que nos eterniza.

É desse amor que falo, esse que vai além da cama, do sexo. É do beijo que é delicioso não só porque arrepia a pele, bambeia as pernas, deixa as coxas molhadas, mas porque o toque dos lábios é tão macio que toca a alma e parece jogar dentro de você um novo alento de vida... A delícia de um  abraço descompromissado usado para finalizar algo, mas que na verdade é o ponto alto, o verdadeiro clímax, porque abre janelas, desnuda paisagens, mostra quem somos e dá a verdadeira dimensão do outro!

Esse amor nos eterniza e faz, ao menos a mim, viver em uma dimensão de eternidade onde não cabe mais ninguém além de quem me ensinou que sentir isso é possível, viável e palpável: você!