domingo, setembro 09, 2007

27 de Elul de 5767

Parador, 27 de Elul de 5767

Querida Nefertiti,

Tuas letras brilham insistentes sobre a escrivaninha,a exigir-me uma resposta urgente e completa como é de praxe entre nós...Hesito, sem saber por onde começar!

Determinas, e tens esta liberdade, que te fale mais alongadamente sobre Jerez: como o vejo e o que realmente significa passado todo este tempo que nos conhecemos e fomos nos enliando um na vida do outro...

Verdade seja dita, creio que criamos uma vida paralela para nós, cuidando, ambos, para não nos alinhavarmos em nossas respectivas vidas do outro! ( Não sei se a construção te parece lógica, mas quis dizer que cuidamos de não nos misturar com as vidas particulares que ambos possuimos).

Jerez é um homem muito belo, porque bonito seria uma expressão muito pobre que lhe ficaria muito a dever. Não é belo somento no fisico, mas de um tipo excepcional de beleza, algo que transcende a sensação ótica, ao prazer visual e se mistura ao cheiro, ao pensamento, ao sabor!

Ainda hoje o observava ao longe: Usava uma camiseta simples, de malha verde escura e debruns pretos. Pareceu-me ter também calças pretas. De onde estava apenas lhe avistava meio corpo mas era tão belo, mesmo ao longe, e tanto se destacava dos demais que por várias vezes pareceu-me não haver outro mais a minha frente!

Mesmo a impaciência em estar por tanto tempo na mesma posição – pois mudou muitas vezes a postura apoiando-se ora nos braços, ora nos pulsos ou mesmo mudando o angulo das pernas – tem uma imponência própria que o faz sempre ser diferente.

A princípio, antes que arrumes a mala a vir conhecê-lo, devo dizer-te que vivo algo completamente diferente e inusitado, algo que se me contassem não acreditaria ou pensaria que a pobre louca perdera para sempre o juízo...Não te assustes, o meu continua integro! Ao menos no tanto que se pode esperar que eu o possua...

Tantas e tantas vezes li as estórias de Merlin e Morgana e só agora as entendo perfeitamente, pois embora não nos vejamos tão amiúde quanto gostaria, sempre que nos vemos é como se nos tivessemos separado ha pouquissimas horas e ao mesmo tempo ha séculos. Não sei lhe explicar e , sabendo da rapidez com que elabora deduções, lhe advirto que não estou sofrendo de paixonite aguda, ao menos não destas que assolam e destroem os adolescentes e , até mesmo, alguns adultos incautos.

Não saberia, minha amada irmã, explicar-lhe a sensação de estar entre seus, dele, braços. E não falo da sensação de uma mulher ser abraçada por um homem, falo de muito mais: falo da sensação de uma pessoa ser abraçada por outra pessoa, de sentir-me novamente uma fagulha da Mãe, um pedaço do Universo indivisível, do Todo a que se chama Ser.

Nada jamais me trouxe tanto a sensação do sagrado, a vibração mística das celebrações de Beltrane como estar entre seus braços, perdida nos seus lábios, refém de suas lindas e fortes pernas (chamo-as de colunas Jônicas!!!).

Jerez me encanta, me fascina, torna-me dócil a mim mesma e isto é um verdadeiro feito, o qual muito me admira. Encanta-me como um domador de serpentes egípicias, embora não seja alguém de muitas palavras ou elogios. Seus maiores elogios, suas palavras mais doces foram sempre ditas nas entrelinhas de um comentário, de um afago, de um e-mail formal ou tão direto que me deixou ruborizada horas a fio!

Ainda assim, jamais me senti tão acolhida e aceita como me sinto em sua companhia. Muitas vezes penso que tudo isso é fruto de ser pisciano e possuir na sua alma um reservatório que contém todo o amor do mundo pela humanidade. Inacreditável que aquele tipo “brabo” seja tão doce e terno, tão acolhedor que seu beijo transmite a impressão de sermos inundados por petálas de rosas que não param de chover.

Gosto de olhar para ele, mesmo ao longe, pois sua visão transmite uma paz que eu não havia ainda conhecido, embora, de alguma forma, pressentisse em outros tempos quando o conheci pela primeira vez.

Assim é que o vejo e sinto.

Tenho absoluta certeza do necessário, do imprescindivel que é mantermos alguma distancia entre nós. Temos temperamentos fortes que em algum momento colidiriam, embora não tenha dúvidas que facilmente cederia ao seu comando que é – já o experimentei profissionalmente, recorde-se – determinadamente suave.

Assim, não sei por quanto tempo ainda poderei desfrutar da sua companhia, do aconchego do seu abraço, de um banho tépido com espumas fartas e muito riso, do seu sorriso cheio de uma fina ironia quando me chama de rebelde, mas sei dizer que ele me trouxe de volta a vida, a mim mesma e restituiu-me a dignidade de Ser .

Não sei se te respondi a tudo que me perguntaste, espero que sim.

Alonguei-me tanto que não perguntei pelos teus os quais espero que estejam bem e em harmonica paz!

Eu te saúdo,minha irmã, desejando que as Mãos que construíram o mundo te protejam sempre!

Sh