sexta-feira, abril 21, 2017

CACOS




Estou aqui e não sei o que faço.
                A minha frente, jazem cacos.
Cacos brilhantes, cortantes, eloquentes...Contam intermináveis estórias de sonhos partidos, desfeitos. São espelhos que mostram faces desfiguradas, rostos enxagues, almas ensangues. Estão bordados por noites insones e desfiguradas.


Devo joga-los no lixo antes que me firam mais, mas não tenho coragem. Conheço cada uma das estórias bordadas ali e seu silencioso lamento me cala a alma. 
O que faço com estes cacos? Haveria cola capaz de os unir novamente?

Cantam um lamento no meio da noite. Falam de invernos e queimadas. Primaveras e 
renascimentos. Morte e ressurreição. Um deles sobe, eleva-se no meio da sala e pergunta: Mulher de pouca fé, não haveria no Cordeiro força para reunir-nos?
Silencio. No ar o eco da pergunta me pede uma resposta. Calo ainda mais profundamente. Afundo-me em mim mesma sem saber o que dizer. Creio que sim, entendo que não!
E me desfaço, também eu, em outros tantos cacos!
               

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